Já na parte final da caminhada, na estradinha que leva ao local de recolha. Às tantas passam-me ao lado dois atletas africanos, ginasticados, elásticos. - Tudo bem?! Levas água?! - E lá foram, gingando, estrada fora.
Eu fui ficando para trás, a retirar dos bastões a ligeireza que aos joelhos já faltava. Foi então que a peripécia me saltou da memória, sabe Deus a que propósito.
No dia 9 de Maio de 1974, o último bombardeamento aéreo feriu o ventre da Guiné. Ia eu a número dois, na asa direita do coronel, que sempre foi a minha predilecta. Lá fomos a rapar até ao Tombali, não fosse algum diabo tecê-las, lá deixámos para trás a fumarada a desfazer-se no ar.
O chefe era um violinista, ao contrário de mim mesmo que fui sempre um artesão. E ao chegar a Bissalanca quis fechar com chave de ouro.
O looping à vertical ainda saiu, o tonneau vinha a seguir. O chefe pranchou sobre a direita em busca de alinhamento, a apertar como um cavalo. O número três a aguentar-se lá em cima, eu a ficar entalado entre a asa do chefe e uns verdes vertiginosos, que passavam à direita. Das aberturas do ar condicionado saíam cubos de gelo a bombardear-me os pés. E à mão direita uns verdes vertiginosos...
Dei um toque no freio, perdi cinquenta metros, saí da formação.
- Lá a reunir, ó dois!
- Negativo, chefe! Dois fora! Não mais, musa, não mais!
O coronel, a sobressaltar as copas, entrou em silêncio-rádio. E foi assim que ficámos, até hoje.
Lá cheguei, são e salvo, ao local de recolha.