«(...) Mas como se faz? Como se "conquista Roma" sem outra arma para além da própria voz?
O primeiro passo era óbvio: havia necessidade de ser senador.
Naquele tempo, para se entrar no Senado era preciso ter trinta e um anos e ser milionário. Para ser exacto, só para se ser candidato às eleições realizadas anualmente em Julho, a fim de eleger vinte novos senadores que substituíam os que tinham morrido no ano anterior e os que se tinham tornado demasiado pobres para conservarem os seus lugares, era preciso mostrar às autoridades bens no valor de um milhão de sestércios. Onde é que Cícero poderia arranjar um milhão? O pai dele não possuía, de certeza, tanto dinheiro: a propriedade da família era pequena e estava fortemente hipotecada. Portanto, tinha ante si as três opções tradicionais. Ganhar um milhão levaria tempo a mais, roubá-lo seria arriscado em demasia. Por conseguinte, pouco tempo depois de regressar de Rodes, casou com ele. Terência fizera dezassete anos, tinha o peito chato como um rapaz e uma cabeça adornada com caracóis pretos e curtos. A sua meia-irmã era uma virgem vestal, prova do seu estatuto familiar. Mais importante ainda: era dona de três blocos de apartamentos miseráveis em Roma, de algumas matas nos subúrbios e de uma quinta; valor total: um milhão e duzentos e cinquenta mil sestércios.
(Ah, Terência: lisa, grande e rica, que bela peça me saíste! Vi-a ainda há uns meses, a ser levada numa liteira aberta pela estrada costeira para Nápoles, a guinchar com os servos para que andassem mais depressa: cabeleira branca e pele cor de nogueira polida, mas, quanto ao resto, bastante parecida.)
Portanto, em devido tempo, Cícero chegou ao Senado; de facto, ficou em primeiro lugar na eleição, agora que era considerado o segundo melhor advogado de Roma, a seguir a Hortênsio; e antes de ocupar o seu lugar foi mandado cumprir o ano de serviço obrigatório do Estado, fora de Roma, que no seu caso foi cumprido na província da Sicília. Com o título oficial de questor, era o menos graduado de todos os magistrados. (...)»