terça-feira, 11 de junho de 2013
Imperium - 6 (Júlio César)
«(...) Quando o áugure se deu por satisfeito, Crasso saiu da tenda sagrada e os candidatos juntaram-se na base do pedestal. Entre eles, devo recordar, na sua primeira tentativa de entrada no Senado, estava Júlio César, que ficou ao lado de Cícero, para ambos iniciarem uma conversa amigável. Conheciam-se há muito tempo e, na realidade, fora por recomendação de Cícero que o homem mais jovem fora para Rodes, a fim de estudar retórica com Apolónio Mólon. Andam por aí muitos textos hagiográficos a envolverem os primeiros anos de vida política de César, querendo levar-nos a pensar que ele fora, desde o berço, apontado como um génio pelos seus contemporâneos. Não foi assim, e quem o viu naquela manhã, na sua toga branca e a mexer no cabelo que começava a rarear, dificilmente o distinguiria de qualquer candidato jovem e de boas famílias. Havia porém uma grande diferença: poucos poderiam ser mais pobres. Para ser candidato, devia ter-se endividado pesadamente, pois vivia em acomodações muito modestas no bairro de Subura, numa casa cheia de mulheres: a mãe, a esposa e uma filha pequena; naquela fase não o vejo como o brilhante herói à espera de conquistar Roma, mas como um homem de trinta e quatro anos a não conseguir dormir à noite, mantido acordado pelos barulhos da vizinhança, profundamente chocado por o descendente da mais antiga família de Roma se ver obrigado a viver naquelas condições. Por conseguinte, a sua antipatia em relação aos aristocratas era bastante mais perigosa para eles do que alguma vez fora a de Cícero. Como um homem que teve de subir à sua custa, Cícero apenas os invejava e sentia-se ofendido. César, porém, que se julgava descendente directo de Vénus, via-os como intrusos e desprezava-os. (...) César, cuja eleição para o Senado acabara de ser confirmada, foi o primeiro a voltar-se para felicitar Cícero. (...)»