Mais do que uma verdadeira pitonisa, a Natália Correia era bruxa.
«A sua influência (dos 'retornados') na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora (1976), embora seja já imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Preparem-se porque vão fazê-lo. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas, mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança! Será um fenómeno crucial daqui por trinta anos.»
Três décadas mais tarde, um governo chefiado e integrado por filhos de retornados tentará, com surpreendente ênfase, refundar Portugal.
(in Os retornados mudaram Portugal, Fernando Dacosta, ed. Parsifal)