Alberto mora em Lamosa, numa casa com um quintalzito ao lado. Tem um filho ainda pequeno e ajuda o mestre pedreiro quando há obra. Porém ultimamente a construção parou, rareiam os trabalhos, parece às vezes que a vida se pôs a ver em que param as modas. Estranho mundo é este!
Alberto resolveu comprar uma cabrita e instalá-la no quinteiro. Um dia há-de parir filhos, dará leite, algum proveito há-de uma cabra trazer à família. Nos serviços veterinários tratou de a vacinar, inscreveu-a, fê-la gente.
Um dia chegou no correio uma carta de Lamego, dos serviços agrícolas, do ambiente, o carteiro lá explicou mas a questão é confusa. A carta intimava Alberto a construir uma fossa, para acomodar os estrumes da cabrita e manter a qualidade ambiental.
O burocrata quis pôr tudo em pratos limpos. - Imagine-se você com sete vacas turinas instaladas no quinteiro! - ou que fosse uma dúzia de leitões, desses que se assam no Verão! - é tudo uma questão de sanidade, de limpeza, de qualidade ambiental! - a fossa para os estrumes da cabrita é uma questão das leis que vêm da Europa! - e a coima, se a não abrir, pode ir de trinta euros a seis mil!
Alberto já decidiu que não vai abrir a fossa. Já deixou de pensar que a cabra terá cabritos e um dia talvez dê leite. Só não sabe o que vai fazer da cabra. Ou a vende a quem lha compre, ou vai oferecê-la um dia aos fiscais da sanidade. Talvez lhe tirem a pele e cozinhem uma chanfana, são bem meninos para isso!