Temendo não chegar a tempo de comprar ali na gorda uma alface para o almoço, dirigi-me ao parque dum complexo a que chamam Dolce Vita. Larguei o panzer no estacionamento, perdi-me em escadarias, elevadores afluentes e tapetes rolantes, até que cheguei enfim à banca dos legumes.
Dentro do complexo caberiam quatro estádios, para além da catedral da bola verdadeira que fica ali à ilharga. E assim pratiquei a contragosto a minha maratona.
Não encontrei dolce vita nenhuma, muito pelo contrário, o que vi foi uma azeda maneira de ir morrendo. Mas lá trouxe para o almoço uma alface mesquinha.
Um casal de velhotes amparavam-se um ao outro, perdidos na floresta dos expositores em busca não sei de quê. Nasceram há muito tempo debaixo dum carvalho, e um dia vieram parar aqui, pelos ventos deste mundo. Vi-lhes nos olhos que suspiram pela horta debaixo do carvalho, onde crescem as alfaces, sem maratonas nem expositores.