sexta-feira, 1 de abril de 2016

Cu da Guarda

O relance faz lembrar a anatomia dum crente, atento a Meca em momento de oração. Veio um vento e arrebatou-lhe a jilaba. Mas é só o Cu da Guarda, uma gárgula insolente da sé catedral voltada para Castela. Um barrista recriou-a, anda aí nas montras da cidade.
Esgotadas as manufacturas tradicionais da lã da Serra, deslocalizada alguma indústria existente, perdida a Universidade para a Covilhã e Viseu, e fechado o ciclo da teologia com o seminário maior, caiu a Guarda numa decadência de que dificilmente sairá.
A ela conduziram os últimos anos da gestão autárquica do PS, exercida por ineptos ou submissos cúmplices, dominados por seguristas, manobristas e aparelhistas inúteis. Se pensarmos que foi por essa fissura que chegou à Guarda a gestão camarária duns paraquedistas da propaganda estéril - bem! melhor é não fazer contas nenhumas nem acalentar projectos! As luzes do Natal que se apagaram, os jardins enfeitados de pinóquios de neves de esferovite, a feira popular da Praça Velha, os planos de cobrir o céu da Rua do Comércio, o quarteirão das artes, os cedros da Salamanca, o novo rotundismo de arte pública... é um festival de empenhadíssima cultura e criatividade.***
Entretanto...
- Os passeios e pavimentos de ruas são uma desgraça perigosa, desde há muito. 
- O TMG, que é indispensável à cidade, são dois cubos de cimento cru e vidro; sem comunicação entre eles; lado a lado, formam um conjunto espúrio e disfuncional, povoado de escadarias; e saiu dum pesadelo de arquitecto pós-moderno, de olhos em bico na contemporaneidade e no futuro; o resto serão cuidados dos seus frequentadores, uns toscos. Tudo isto sem um projecto de animação coerente.
- A Praça Velha foi requalificada, é o que lá está e dispensa comentário, com o velho Sancho agarimado num canto.
- O centro Vivaci, que mudou de nome, é uma aberração de 8 pisos a funcionar sobre escadas rolantes. E tapou cem metros da muralha antiga, num desplante inusitado.
Hoje a Guarda exibe o Cu da Guarda mais a História, e a decadência que a cobre.
***Noventa e dois mil euros é quanto vai custar a "estátua" decorativa da rotunda do Diz. Fora o que escorre, para outros cinco projectos de rotundas. Benz'ós Deus e a nós também!