domingo, 10 de abril de 2016

Os três da vida

Animavam os bailes no terreiro, às tardes de domingo. Eram pendão e bandeira onde outras não havia. 
O Dinis tocava na concertina as harmonias celtas que sabia. O António acompanhava na palheta do banjo. E o Antero pontuava nos ferrinhos e na pena do chapéu. Nas arruadas de festas e romarias, punham os três o mais florido ramo.
Antero foi para o Brasil e lá morreu. António matou um homem numa tarde de mais vinho, e apanhou a pena máxima. Na prisão, aprendeu a marceneiro, aprendeu de entalhador. E foi parar a Nampula, a carpinteirar madeiras num aeroporto novo. Já o Dinis morreu no fim da vida, herdou-lhe um filho as harmonias celtas. 
A concertina ficou, já tem um rasgão no fole. Foi por ele que escaparam as melodias celtas, e a lembrança das tardes no terreiro, e os risos, e as emoções. E todas as vidas que deixou de haver ao sol.