O Pacto de Varsóvia acabou há 25 anos, houve peitos que então descontraíram. Alguém esperou que a Nato, (um tratado de países do Atlântico Norte) se dissolvesse também. Em vez disso dedicou-se ao bullying sobre Moscovo e a Rússia, garrotando-lhe o pescoço. Globalizou-se, instalou radares e mísseis na Checoslováquia, na Polónia, na Turquia... E participou alegremente, com franceses e ingleses ao serviço da América, na caça ao Kadhafi da Líbia, e depois no Egipto, e no Afeganistão, e no Iraque do Saddam Hussein, o tal das armas de destruição maciça que estavam enterradas no deserto. Esse pouco em apoio dos "rebeldes das primaveras árabes", que se levantavam contra os tiranos despóticos opressores dos seus povos. Em defesa, assim, da liberdade e dum mundo de direitos humanos.
Esta febre só amainou quando chegaram à Síria os ditos libertadores pentagonais; o Bashar al-Assad pôs-lhes à frente um pirete das Caldas, porque tinha as fracas costas aquecidas do Putin. E empenhou-se a metralhar os seus "rebeldes" caseiros, empanturrando-os com bombas-barril. É claro que houve muito mexilhão sírio que apanhou com a vaga em cima, ossos do ofício. O déspota não se deixou comover. E foi assim que os ditos libertadores não chegaram ao Irão, que era a estação terminal dos planos de viagem do Pentágono.
Nesse interim, o Putin pôs o dedo no nariz da Ucrânia pós-nazi, pôs a Crimeia na ordem, por questões da Frota do Mar Negro. E fez avisos à navegação, através duns bombardeiros que vieram ver as Berlengas.
Entretanto já tinham tomado corpo uns xiitas radicais, uns do DAESH, saudosos das glórias do Califado. Minaram lá por dentro uns despojos inúteis da al-Qaeda do bin Laden. que uns cobóis do Seal marine tinham ido buscar ao Paquistão, para o atirarem ao mar. Os Daesh's já mandavam no Iraque (que era um campo de ruínas, desde o Bush), e ameaçavam tomar conta da Síria, reduto do bom Assad entrincheirado. E puseram-se a fazer barbaridades e ofensas à etiqueta.O Putin aí não foi de intrigas: mandou-lhes tropas e esquadrilhas de aviões, e bombas inteligentes a pedido. E eles tiveram que abandonar Palmira, que levava a Samarcanda, na velha rota da seda, e deixaram-se de negócios de antiquário. Depois disso Putin mandou regressar as tropas, por considerar alcançados os objectivos delas.
Agora o resto da história está no cardápio do ilustríssimo Trump, o provável presidente republicano da América mais profunda, mais genuína e mais poderosa. Os EUA não podem ser governados por um etíope pintalgado, bem capaz de se esmerar, agarrado a uma argentina, num tango à Carlos Gardel.
A velha Europa, coitada, fecha os olhos, é o último a saber. Anda nas mãos dumas elites bastardas de burocratas pagos a peso de ouro, inundada de problemas e migrações miseráveis, que afrontam o Mediterrâneo por um sonho. A pobre Europa hostiliza Moscovo, às ordens da América, por causa da Crimeia. Priva-se da energia que a Rússia tem disponível ali ao lado, e decreta sanções à nova Praça Vermelha. Putin responde fechando as portas a importações da Europa. E os últimos a apanhar com tamanha bolada são uns tipos que persistem em produzir pêra-rocha ali no Bombarral, e em criar leitões de engorda, e vacas para ordenhar, que os empurram para a ruína.
Antes que me fique tarde, vou amanhã almoçar com um amigo, a um estanco do Mogadouro. Oxalá esteja bom tempo e haja posta de Miranda.