Na sua frente, adormecida, estava Kika Mas não estava sozinha: três espíritos vigiavam-na, estando a sua cabeça repousada no colo daquela que Evangelina já avistara antes. Quando ela se aproximou, sem medo, uma a uma, as sombras foram desaparecendo e a face delicada da menina foi descendo lentamente até ao chão. (...)»
(Possidónio Cachapa, Viagem ao Coração dos Pássaros, Marcador Editora, Jan 2015, pág.83)
É desta literatura que por aí se gasta e se consome, pelos vistos traduzida em vários países, sendo objecto de teses universitárias internacionais.. conforme reza a badana. Já em Nylon da Minha Aldeia (1997), Cachapa corria persistentes riscos de confundir fantasia infantil com imaginação criadora. Mas cultiva um respeito escrupuloso pela língua e a gramática dela, coisa rara que muito se encarece. Há no texto ritmos e harmonias e musicalidades de notar. Já outras armas de estilo do autor... nem nos comovem nem ensinam novidade.
- "O maior escritor de prosa da sua geração" - opinou alguém no Expresso.
- "Possidónio Cachapa tem um universo" -arrisca o Público. E lá terá, o que não é bastante.
- "A arte de P. Cachapa consiste no modo como presentifica os seres e as coisas" - disse Urbano Tavares Rodrigues, enquanto se esperava que dissesse alguma coisa.
O que vale é que lá fora está um luar triunfante, a lua cheia pascal do Concílio de Niceia, a balizar o tempo da ressurreição. E a libertar o mísero leitor do prolongado enfado, da sonolência frustrante, e do cansaço inútil que as irrelevâncias deixam!