« (...) No final, aconteceu o que se sabe: a Europa dividida, tendo como peões da dureza Portugal, Espanha e Finlândia, com eleições à porta, a quem não convinha o mau exemplo do Syriza. Recusando o que teria sido uma saída airosa e mais duradoura. Assim, contando com o tempo como
principal aliado, a discussão extremou-se, os riscos de ruptura acentuaram-se e o dilema tornou-se mais agudo para Angela Merkel, a única com poder para tudo decidir: ou rompe com a Grécia e arrisca o imprevisível, ou aceita o que os gregos lhe oferecem e dá um sinal de que quando a corda estica, acaba por ceder. Inteligência, cultura histórica, visão estratégica, consciência das realidades parecem ausentes daquele grande salão. Vistas curtas, manuais improvados, receitas falhadas, egoísmo nacional e pretenso justicialismo levam a melhor. Se a Grécia tem hoje o Syriza a governar, deve-o, em boa parte, a Angela, José Manuel e Jeroen, incapazes de entender a história e de projectar o futuro.
Mas os gregos não estão isentos de críticas. Sabe-se agora que o seu Parlamento está dividido em duas grandes correntes, uma favorável à ruptura, outra tendente ao compromisso e à aceitação das regras de Bruxelas, embora lutando até ao fim por soluções viáveis e socialmente justas. As delongas desse debate têm certamente influenciado aquilo que passou para os media como incapacidade técnica de apresentar propostas, superficialidade de análise, ou, pior ainda, manhoso retardamento na apresentação de soluções para encravar credores. Quando nos surpreendemos com as dificuldades gregas em aumentar receita fiscal e o acantonamento das políticas em punição do povo através de desemprego, corte de salários, ordenados e pensões, cabe perguntar: o que fez Antonis Samaras e o seu Governo de larga coligação? Por que razão é o Syriza causticado com críticas de incapacidade de governar e o anterior Governo liderado pela Nova Democracia escapa incólume pelos pingos da chuva, quando deveria ter sido ele a realizar, quando possível, o que agora se exige, sendo já dificilmente realizável? (...)»
[Correia de Campos in PÚBLICO]