quarta-feira, 15 de abril de 2015

Nenhuma lágrima o pode redimir

A última vez que a vi foi há uma eternidade, numa madrugada de Fevereiro, teria eu sete anitos. Ela foi à minha cama, acordou-me e deu-me um beijo. Depois disso foi-se embora para o Brasil.
Tinha-se casado com um soldado que chegara de Macau, aonde fora fazer não sei o quê. Mas o que ambos tinham que fazer era arranjar uma vida. E lá se foram, seguindo a prática antiga.
Eu nunca mais a vi e tive grande pena, pois deixou de me chamar o meu sapinho e encher-me o rabo de mimos sempre que podia. 
Agora ela morreu. Num lugar perdido deste mundo, a que as nossas elites traiçoeiras ainda hoje chamam a diáspora e ninguém sabe onde fica. Deve ser um sítio, ou uma feira, para onde sempre se mandou o gado que deixou de caber no lameiro.
Nenhuma lágrima o pode redimir!