Está aí outra vez Abril, o de há quase meio século. Na data e em muitos corações. Com ele voltou também um Portugal do passado, confuso, atarantado, esquizofrénico.
Dum lado um indescritível governo de sipaios e traidores, a trombetear vitórias mitológicas: a da austeridade salvífica, a do ajustamento que nos salvou da bancarrota, a da troika que nos remiu e foi embora, e a da resiliência dos bravos portugueses que pegaram a besta de cernelha. - Temos finalmente os "cofres cheios"! - ecoam e amplificam os papagaios de turno.
Do outro lado o Portugal de carne e osso, o único real e verdadeiro, o que nunca mais terá trabalho, o que já entregou a casa ao banco, o que voltou à diáspora fatídica, o que sobrevive na precariedade ou já naufragou no desespero.
Para responder à crise em tempos vinda da América (que vitimou o último governo de Sócrates), as elites foram desenterrar velhas balelas sobre a austeridade, insultando o povo que andou a viver acima das possibilidades. Hoje só os cínicos as levam a sério, ou quem vive à custa delas, ou quem já desistiu de pensar.
No Portugal em que estamos, as elites oligárquicas e revanchistas serviram-se da crise mundial (que ainda hoje fazem por desconhecer!), usaram a arma da precariedade e exigiram a vinda da troika para retomarem o poder. Para executarem esta política miserável, que sempre foi a sua, e não seriam capazes de voltar a pôr em prática sem uma boa ajuda. Por causa do Abril que um dia houve.