domingo, 12 de abril de 2015

Heróis meus

Quando chegava a hora do jantar ao final da manhã, sentavam-se em roda da toalha estendida no restolho, à sombra fresca dos freixos. Devoravam barranhões de arroz de gravanços com fumeiros variados, trocavam fábulas pícaras e graçolas brejeiras, bebiam litros de vinho duma cabaça de cinco. E depois de lhe encostarem o gargalo ao canhão esgaçado das camisas passavam ao companheiro.
No fim montavam as armas e picavam as gadanhas, antes de ajeitarem as lombeiras numa sombra e dormirem a sesta. E às vozes do manajeiro tornavam ao corte até ao lusco-fusco. No caminho de casa uns trauteavam laironas que eu não entendia bem. Outros tropeavam cabisbaixos ao peso das gadanhas.
Com estes trabalhos deles escapei eu à penúria e eles não. Bem vivo estou e eles já morreram todos, só lhes ficou a memória no cantar destes ribeiros. Ando com eles às costas por veredas e rodeiras, nas minhas caminhadas. Para me juntar à quadrilha quando me chegar a hora.