Linguista no Instituto de Tecnologia do Massachussets, no âmbito da Gramática Generativa Transformacional, Noam Chomsky tem 84 anos. E é também um activista político, com posições muito pouco acarinhadas pelos poderes dominantes na América. Militante da participação cívica em prol da igualdade económica, da democracia e da liberdade, reflecte sobre as actuais desigualdades económicas e aponta vias para superar as políticas neoliberais e de austeridade.
É também conhecido pelas suas posições radicais e pela crítica da política externa dos EUA. As suas simpatias orientam-se no sentido do movimento operário cooperativo, de tendência libertária. A partir do início da década de 60, participa com frequência em debates públicos sobre temas variados, entre os quais a intervenção externa dos EUA, a colaboração dos intelectuais com a política oficial ou o conflito israelo-árabe, o que frequentemente lhe valeu, para além do ódio por parte da grande imprensa, variadas perseguições que chegaram à tentativa de agressão física.
Convenhamos que não é tarefa cómoda!
Tradução exemplar de Maria Afonso.
«Sobre a história da economia americana
(...) Os anos de 1970 foram os primórdios dum grande ponto de viragem na história americana. Durante séculos, desde a sua fundação, o país foi uma sociedade em desenvolvimento, e nem sempre da melhor forma, o que não vem agora ao caso. O país assistia a um desenvolvimento social com pontos altos e baixos. Mas a evolução geral tendia para a prosperidade, para a industrialização, para o progresso e para a esperança. Havia a constante expectativa de que a situação se mantivesse, algo que se verificou até em tempos muito negros.
Lembro-me da Grande Depressão. Após os primeiros anos, a meio da década de 30 - embora a situação fosse muito mais dura do que é hoje - ainda assim o espírito era muito diferente. Havia a sensação de que se ia "dar a volta por cima"; até mesmo entre os desempregados, grupo em que se incluíam muitos familiares meus, havia a sensação de que tudo ia correr pelo melhor. (...)
Hoje a situação é bem diferente. Para muitos americanos, há um insidioso sentimento de desesperança e, por vezes, de desespero.Parece-me que é um sentimento inédito na história americana, e tem uma base concreta. (...)»