segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Pós-palestra

Nota prévia: o palestrante que lê é um palestrante com defeito. E quando lê à pressa, no afã de não deixar nada por dizer, é tão pesado à plateia como um cilindro da estrada. Adiante.
Na circunstância tratava-se de analisar o riso e o cómico em três trabalhos de Virgílio Ferreira, mais marcadamente políticos: Estrela Polar (1962), Nítido Nulo (1971) e Signo Sinal (1979). "As diferentes ideologias e facções presentes neste tríptico surgem causticadas pela escrita sarcástica e irónica do autor."
Em qualquer tempo, a criação literária nasce dum quadro social concreto, alimenta-se duma cultura. Sob pena de ser uma inútil flor de estufa. Foi reticente e crítica a recepção que tiveram estes trabalhos de VF. De sublinhar foi a reacção de Alexandre Pinheiro Torres e de Baptista-Bastos que, muito ao seu jeito, foi ao ponto de ameaçar ir às fuças ao autor!
À época, os tempos eram de grande miséria geral. E há décadas que era determinante, nos círculos da literatura, o peso da escola neo-realista. É de pensar que uma obra não mais que sofrível, a propugnar valores estéticos divergentes, por força teria fraca recepção.
A sociedade, o pensamento e a cultura francesas, tomadas por modelo, levavam a Portugal um século de avanço. E os ecos do nouveau-roman, dos surrealistas, existencialistas e outros cultores da liberdade da arte formalista eram em Portugal reais anacronismos de nicho classista.
A dada altura, o palestrante caracterizou VF como um escritor muito competitivo. Se este eufemismo quis significar que VF tinha um vastíssimo desmesurado e verrinoso umbigo... não andou muito longe da verdade. Para não dizer que trouxe a justificação daquela seca inteira.
Adenda: um autor que, em 1979, apresenta um retrato do orador Salazar, e ao lado um retrato de Vasco Gonçalves do comício de Almada, é um artista que padece de imbecilidade. É um pensador formalista, excelente para pendurar no secador da roupa. A esse propósito, vale a pena ouvir isto aqui!