sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

CEP 4

O comboio estava à espera / para todos embarcarmos / nem sequer nos deram tempo / para ao menos descansarmos.
Embarcámos a toda a pressa / sem perder ocasião / o frio era tanto / que cortava o coração.
O comboio deu partida / para o caminho seguir / íamos todos desanimados / por não poder resistir.
Levávamos a cara fria / e o coração gelado / chegámos a um certo sítio / que até morreu um soldado.
Era nosso camarada / e muito bom soldado / e para falar a verdade / era primeiro cabo.
Daquele não se fez caso / do que tinha acontecido / muitos dos que lá iam / nem sabiam que tinha morrido.
Dizíamos uns para os outros / não há quem no daí leve / o comboio não parava / não se via senão neve.
Chegámos a uma estação / já via gente francesa / lá deixámos o camarada / enterraram-no com certeza.
Nós seguimos a jornada / levávamos muitas paixões / daí a poucos minutos / sentiu-se o toar dos canhões.
Já íamos muito longe / íamos sempre a navegar / a primeira coisa que vi / foi um aeroplano alemão no ar.
Pus-me para ele a olhar / que me causava admiração / daqui a poucos minutos / atiraram com ele ao chão.
Ele andava tão alto / até por cima das névoas / e já vinha da Alemanha / de uma distância de léguas.
Atirava muito tiro / e deitava-os lá do ar / já sabia que nós que íamos / que já nos estava a esperar.
Ali não matou ninguém / não lhe calhou o que queria / por fim deitaram-no abaixo / a nossa artilharia.
Nós tratámos de formar / e o nosso batalhão à parte / marchámos para uma povoação / chamada Iquinegate.
O povo já era perto / já víamos a torre do sino / porque a neve era tão forte / que não víamos o caminho.
Íamos de mochila às costas / uns tristes outros alegres / e passámos lá num campo / onde andava um rebanho de lebres.
Eu não as cheguei a contar / digo a verdade não into / elas eram mais de vinte / a trinta a quarenta e cinco.
Chegámos à povoação / já estava a nascer a lua / não tínhamos onde dormir / dormimos cá fora na rua.
Reparem bem no (?) / como é a cama dos soldados / vinha a manhã em Castela / já estávamos todos levantados.
Estivemos lá oito dias / para gente descansar / mas cama não havia / para se a gente deitar.
Findaram-se os oito dias / lá naquela povoação / logo no dia a seguir / fomos ao raio da instrução.