sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

CEP 10

Nos abrigos das trincheiras / vejo-me em guerra metido / sujeito meu coração / às balas do inimigo.
Com a minha arma na mão / estou cumprindo o meu dever / pronto a matar ou morrer / dum golpe dum alemão.
Oiço troar os canhões / oiço metralhadoras ligeiras / com pólvora nas cartucheiras / aqui espero a minha sorte / muito sujeito à morte / nos abrigos das trincheiras.
Nesta morada onde me vejo metido / já oiço cantar as balas / matando alguns camaradas / vejo caveiras mirradas / vejo os feridos a gemer / vejo além um jazigo / onde moram amigos meus / para lá irão meus ossos / estou em guerra metido / aqui vejo o triste fim / de meus amigos e companheiros / morrer com grandes morteiros / o mesmo me acontecerá a mim / em triste hora eu nasci / digo de meu coração / deixo esta recordação / ainda antes de morrer / para a pátria defender / sujeito meu coração.
Ao ver isto é triste / em tudo devemos pensar / não a vida desgraçada / do que é a dum militar.
Anda um pai a criar / um filho com tanto mimo / na flor da sua idade / morre como um passarinho.
Ouvir o falar dum pai / até corta o coração / vai querido filho vai / cumprir a tua obrigação.
Também diz a triste mãe / com o seu coração magoado / é medonho ver partir / um filho para soldado.
É bem triste a despedida / dum filho que vai para a guerra / vai com a esperança perdida / de voltar à sua terra.
Uma mãe fica pensando / chorando e dando ais / diz adeus aos seus filhos / talvez para nunca mais.
Oh que grande alegria / voltar-se à nossa terra / todos lhe vão procurar / pelos efeitos da guerra.
Nós sofremos nas trincheiras / grandes golpes e facadas / passando as tristes noites / debaixo das orvalhadas.
E a noite ( ? ) de alerta / em seguida a madrugada / o frio nos faz gemer / é triste a noite gelada.
O sol mal se desloca / a partir do horizonte / aquecendo com seus raios / através do longo monte.
Vem iluminar os vales / que se encontram desbaratados / pelo terrível tiroteio / é que andamos arriscados.
Quando se trava um combate / ou que estamos arriscados / nós sofremos grandes golpes / por causa daqueles malvados.
Temem-se as nossas famílias / nas nossas povoações / choram lágrimas de sangue / e fazendo orações.
Ao ouvir os ais duma mãe / e pensando nas suas falas / adeus filho da minha alma / que vais sujeito às balas.
Pensa bem meu querido filho / nos perigos em que te vais meter / só deus do céu é que pode / à tua sorte valer.
Não sei que coragem é a tua / que ainda te vais a rir / vais defender a liberdade / de que nos querem proibir.
Adeus mulher linda e bela / que para mim foste criada / eu cá vou para a triste guerra / vou seguir minha jornada.
Chega a hora da despedida / dos seus filhos a chorar / não a coisa que mais custa / que é ir para a guerra abalar.
Deus nos cubra de bênção / adeus meus queridos filhinhos / diz o pai para os filhos / cobrindo-os de beijinhos.                     
FIM