terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CEP 8

Agora conto das máscaras / que me acompanham todo o dia / elas não podem dar fogo / mas têm muita sabedoria.
Os alemães botam os gases / com quanta força tiver / eu logo a ponho na cara / isso é o que ela quer.
Os gases andam por ali / e ela não lhe dá cuidado/ às vezes vai-me sizendo / rapaz está sossegado.
Quero-a muito estimada / não lhe quero dar castigo / quando me vou à cama / ela vai dormir comiggo.
Quando me deito na cama / é só para dormir / mas ela nunca dorme / porque os gases podem vir.
Os soldados cá na guerra / durante a noite não dormem/ a máscara quer-se estimada / porque é a vida dum homem.
A máscara é muito boa / e digo que é esperta / oiço tocar o chocalho / ponho logo gases alerta.
Eu não sei de quem é filha / que tem tanta esperteza / ouve tocar os chocalhos / já há gases com certeza.
Os alemães são falseiros / como o Kaiser alemão / têm gases asfixiantes / para matarem à traição.
Eles são tão traiçoeiros / fazem minas pela terra / já não têm munição / para defender a guerra.
Não têm artilharia / porque lhes custa dinheiro / só o que empregam na trincheira / é só raio do morteiro.
É uma arma infernal / dá cabo do parapeito / nós vêmo-los vir no ar / todos lhe guardam respeito.
Nós não nos podemos vingar / porque somos de Infantaria / mas pedimos o SOS / da nossa artilharia.
A artilharia dá-lhes fogo / eles já não querem saber / botam todos a fugir / que têm medo de morrer.
Temos matado muito alemão / e é uma morte bem boa / só o que ainda não matámos / foi uma mulher alemôa.
Essas também são falseiras / que são da mesma nação / ficam lá para a retaguarda / a (sanjarem ?) criÇõ.
O que podem pedir a deus / é não irmos avançar / que quantas apanhássemos / todas havíamos de capar.
Sou muito bom capador / nunca me morreu nenhuma / tenho muito boa ferramenta / que até é uma verruma.
Mas para as mulheres alemãs / usava doutra maneira / era com o meu canivete / que trago na minha algibeira.
Eu quando estou a capar / logo ponho as minhas luvas / para ficarem bem capadas / para lhe chegar às (verrugas?).
Na Alemanha há capadores / mas só capam uma  vez / por bem que eles estudem / não chegam ao português.
Portugal é (mais) pequenino / do que as outras nações / declararam-lhe guerra / mas não o levam com duas razões.
Os alemães diziam / que não tinham medo a Portugal / agora já dizem eles / que gente tão infernal.
Bem sei por que dizem isto / porque lhes vamos ao pêlo / cá para nós um alemão / mata-se como um coelho.
Bem sei que é mal feito / matamo-los de baioneta armada / nós também temos dó deles / mas a gente é obrigada.
Morrem ali na trincheira / estreitinha como um quelho / mas morrer por morrer / morra meu pai que é mais velho.
(Cont.)