domingo, 17 de janeiro de 2016

CEP 7

O dia 13 de Junho / que é dia de Santo António / esse dia é tão santo / mas para nós foi o demónio.
Nunca durante a guerra / tive a morte tão chegada / era meia-noite em ponto / tivémos que fazer retirada.
Esse dia já todos rezavam / padre-nossos à virgem maria / mas nada disso valeu / morreu quase uma companhia.
O 28 e o 34 / são os que se rendem os dois / os soldados que morreram / eram todos do 22.
Estávamos à direita deles / todos no mesmo sector / tudo estava a fazer fogo / parecia ali um tremor.
Eram tiros de granadas eram tiros de morteiros / parecia ali o demónio / tudo isto aconteceu / no dia de S. António.
Deitavam então um veneno / disso ninguém escapava / eram gases asfixiantes / morria quem os cheirava.
A mim também me cheiraram / que foi quando fiquei mal / até fui para Calais / estive um mês no hospital.
Nunca tive a morte tão perto / desde que sou de pequeno / uma coisa tão afrontosa / que só parecia veneno.
Não eram dos de cilindro / eram gases de granada / foi quem nos valeu / senão ninguém escapava.
E eu como escapei / quero a minha vida contada / para que vejam meus senhores / que tem sido arriscada.
Tenho tanto combatido / já nada me dá cuidado / falta-me ir ao inferno / a lutar com o diabo.
As balas dos alemães / queriam-me o chapéu furar / mas como é todo de ferro / não as deixou cá entrar.
Por isso hei-de o estimar / como que seja meu amigo / que me tem livrado da morte / quando é no maior perigo.
Eu já disse aos camaradas / até mesmo na fronteira / se algum dia eu morrer / que mo ponham à cabeceira.
É um chapéu inglês / feito na Inglaterra / reparem bem meus senhores / que até o chapéu anda em guerra.
Andamos em guerra os dois / ali firmes a pé quedo / para que digam os aliados / que aos alemães não temos medo.