« (...) Não se pode pensar que há uma razão intrínseca e uma necessidade interna que justifiquem o fervilhar de acontecimentos culturais que requerem a presença dos escritores — festivais, apresentações, sessões, leituras, mesas-redondas, debates, conversas, intervenções, conferências, colóquios, discussões, talk shows.
Esta cultura das manifestações que não se sabe bem o que manifestam tem os mais variados pretextos (o mais comum é o da “promoção dos livros e da leitura”) e surgiu para servir os mecanismos e estratégias comerciais das editoras (nada que não seja legal e legítimo), que se alimentam de uma nova lógica da condição do trabalho do escritor, da sua difusão e legitimação.
Não existiriam todas estas manifestações culturais se elas não fossem exigidas pela nova figura do escritor e do intelectual, o “intelectual de si mesmo”. E, portanto, participar nelas é sujeitar-se às condição desse trabalho intelectual, tal como o neoliberalismo as configurou. (...)» (António Guerreiro, in Ipsilon)