A autora não me comove, nem como escriba nem como personalidade. Mas leio o seu relato (com filtros), para saber o que ela viu em Florença, em Veneza, em Londres, em Paris, em Berlim, em Sampetersburgo, que lugares visitou e que opiniões colheu. Não desperdicei o tempo!
«(...) Mas o que me impressionou não foi a árvore (robinia pseudoacacia), mas o que li noutra placa, onde se informava que naquele bairro haviam sido presas cerca duma centena de crianças judias, mais tarde deportadas para a Alemanha. " Presas pela polícia do governo de Vichy, mais de 11 mil crianças foram deportadas de França entre 1942 e 1944 e depois assassinadas em Auschwitz, por terem nascido judias." (...)
Não é fácil determinar o grau de anti-semitismo existente na sociedade francesa, quer nos dias que correm, quer durante a 2ª Grande Guerra, quer aquando do caso Dreyfus, mas sabemos ser e ter sido elevado. Um ano antes de morrer, um dos meus invisíveis companheiros, Eça de Queiroz, fazia um balanço sobre o país, a França, onde desde há onze anos era cônsul. Antes de o citar, tenho de relembrar o episódio a que se refere.
Em 1894, um capitão de origem judia, Alfred Dreyfus foi acusado de ter entregado na embaixada alemã em Paris documentos secretos, após o que fora condenado a prisão perpétua e deportado para a ilha do Diabo, na Guiana francesa. Cinco anos depois surgiam provas de que o verdadeiro culpado era o major Esterhazy, que estranhamente seria ilibado. A 13 de Janeiro de 1898, após Zola ter publicado o artigo "J' Accuse" no jornal Aurore, começava o movimento pró-Dreyfus: a França dividia-se. Em 1899, Dreyfus era mandado regressar a Paris para se proceder a um novo julgamento. Para surpresa de muitos, voltaria a ser condenado.
Eça ficou indignado. Eis o que, a 26 de Setembro de 1899, dizia a um seu amigo brasileiro, Domício da Gama: "Também eu senti grande tristeza com a indecente recondenação de Dreyfus. Sobretudo talvez porque com ela morreram os últimos gestos, ainda teimosos, do meu velho amor latino pela França." Aproveitava para ajustar contas com o país que tanto amara. " A França nunca foi na realidade uma exaltada de Justiça, nem mesmo uma amiga dos oprimidos. Esses sentimentos de alto humanismo pertenceram sempre e unicamente a uma elite, que os tinha, parte por espírito jurídico, parte por um fundo inconsciente de idealismo evangélico".
É verdade, reconhecia, que ali tinham ocorrido revoluções generosas, "mas logo, com o Império, a França se recuperou, regressou à sua natureza natural, e recomeçou a ser como sempre a Nação videira, formigueira, egoísta, seca, cúpida." Devia talvez acrescentar cruel, porque, de facto, todas as grandes crueldades da História Moderna, desde a guerra dos Albigenses até às matanças de Setembro (huguenotes) têm sido cometidas pela França.
"Em nenhuma outra nação se encontra uma tão larga massa de povo para unanimemente desejar a condenação de um inocente e voltar as costas, ou mesmo ladrar injúrias, à sua longa agonia." (...)»
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