Leio numa revista a tua última crónica, e lá me apareces tu a pedir colo. Devias saber que não é para isso que a literatura existe.
Depois, na livraria, folheio-te em Galveias. E lembras-me um gaiato à procura duma voz, a ensaiar um fraseado, a ver se aplaina um discurso, um modo, um estilo seu. Olha-me para o Camarneiro, que te anda perto, mas já não tem essas hesitações.
Diz-se que te lêem aos milhares, por esse mundo além. Pois por ti folgo, que te há-de fazer bem ao ego. Mas se o fenómeno literário é uma coisa que não podes dispensar na tua vida, não te deixes ir na conversa dos editores de sucesso. A literatura não é coisa que ande suspensa dos anseios de alma de viúvas sensíveis, e menos ainda dos caprichos volúveis de consumidores iletrados. Isso é mercado, ou elixir de droguista, para não dizer apenas alienação.
O único aval do que escreves é o tempo de vida que o espera. E durar pouco é o destino dos equívocos.