Portugal é outra vez um rebanho tresmalhado, abandonado a si próprio e à deriva. É a sexta vez na História que acontece.
A primeira foi em Alfarrobeira. A neo-fidalguia dirigente, que rodeava o rei-criança Afonso V, atraiu à falsa fé e tratou de liquidar o infante D. Pedro. O luminoso príncipe das sete partidas, que se opôs à rapaziada de Ceuta, essa tragédia.
A segunda foi em Alcácer-Quibir, a cruzada para a qual o jesuíta empurrou o juvenil rei Sebastião, malsão e paranóico.
A terceira foi na Viradeira. Morto o rei do terramoto, logo a aristocracia revanchista fez o cerco à rainha Louca e homiziou o Marquês. Em vez das fábricas novas, voltámos alegremente aos marialvas, às procissões, à
fadistagem, aos pátios das cantigas. E à miséria.
A quarta foi no 28 Maio da atribulada República, afogada nos equívocos da preservação do império.
A quinta foi no final da 2ª guerra. Um porta-aviões ao serviço da NATO numa ilha do Atlântico garantiu em Portugal a sobrevivência do fascismo aniquilado, a qual nos havia de custar trinta anos de vida, dez mil mortos, trinta mil feridos, e um número incalculado de estropiados emocionais.
Esta é a sexta vez. A oligarquia da finança, rapace e vingativa, de braço dado com a esquerda messiânica, inútil e oportunista, levou ao poder o pior que já se viu.
Hoje é domingo, o dia da meia-hora de Sócrates na televisão generalista. Tão tresmalhados se encontram, os coitados, que os portugueses mal se dão conta do facto. E sorriem, entre duas baboseiras.