Nunca tinha feito uma colonoscopia, achou o clínico que era altura de a fazer. E eu, que desconto 3,5% do salário para a Saúde, pensei que era boa a hora. E lá fui fazer o exame sem pruridos de consciência.
Detectaram-se umas anomalias. E ali mesmo o médico as tratou, fazendo-me sentir num bloco de operações. A coisa fez-me pensar.
A relação que mantenho com a medicina (psiquiatria, cirurgia, clínica generalista, outra que seja) foi sempre de confiança um tanto cega. Faça eu o que tenho a fazer, é a eles que a Saúde compete. Há quarenta anos dizíamos nós nos Dembos, se chegarmos vivos a Luanda, os doutores não nos deixam morrer. A história nunca o desmentiu, e eu próprio comprovei isso com surpresa.
A peripécia de hoje deixou-me outra vez surpreendido. E em boa hora lá fui, fazer o exame. Antes que uns vândalos acabem também com isto, com a Saúde e connosco, com a competência e o saber onde existirem, com a eficácia dos serviços públicos. Como se todos fôssemos meninos injustamente mimados!