sexta-feira, 8 de maio de 2015

Cálida e lenta

Era assim que a vida decorria, lenta e cálida, na Guiné da Casa Gouveia e da CUF. Com temperaturas de 40º e humidades de 85%, os pilotos de alerta respiravam a custo nos catres de campanha, de focinhos encostados às alhetas de ares condicionados ferrugentos.
As tropas de quadrícula já jogavam à bola nos terreiros, com grupos do PAIGC. E os comandantes reuniam com chefes guerrilheiros no sertão, a sondar o futuro e a fiturar como deslindar o nó. Isto enquanto se aguardava que o Caolho ajustasse o caco e reconhecesse o inevitável: a independência e o fim das hostilidades.
Em Setembro de 74 chegou-me o mês das férias. E eu vim refastelar-me na Avenida, numa esplanada de plátanos, agarrado a uma cerveja geladinha. No fim do mês mandaram-me dizer que não voltaria a Bissalanca, deixara de ser preciso. E eu só pensei que não voltava a trincar o arroz de chabéu que um chef cabo-verdiano me cozinhara em Bubaque, no meio dos Bijagós.
O Estado Maior propôs-me uma estadia numa base do Arizona, para um curso de Segurança de Voo. Deram-me cinco minutos para pensar, e eu cogitei: 
- Na dúvida, esta gajada está a meter-me paus por baixo! 
O pesadelo maior tinha acabado, a guerra agora era cá. E resolvi destrunfar.
Eles mandaram-me para a Granja do Marquês.