A dona Margarida mora na cidade, num subúrbio de betão. Mas de horas em quando vem à aldeia, maiormente na festa da padroeira. Saboreia o ar da serra, encanta-se com o pitoresco. E recorda a romaria dos pastores, as borregas pintalgadas de anilina, a cavalgar à volta da capela. - Agora já não há disso! - lamentou.
Foi assim que a dona Margarida teve a ideia. À custa duns grãos de milho, levou ao adro uma dúzia de galinhas, da vizinhança em redor. Pôs-se a andar à volta da capela, e as galinhas foram atrás dela, a ciscar no empedrado. Quando se acabou o milho tresmalharam, e a tradiçao não pegou.
Ao contrário do que dizem as más-línguas, as galinhas são muito cartesianas, não faltam a uma missa do Voltaire. E apreciam mais o milho do que os milagres da santa. Que são muito contingentes.