Hoje tenho um éden no alpendre. mas nem sempre foi assim.
A forneirita passava o tempo no choco, a acalentar a ninhada. Compenetrada, zelosa, só perdia a compostura quando me via lá fora a fumar o meu cigarro. Na dúvida paus por baixo! E desertava.
Dias depois chegaram as andorinhas. Eram duas, que entraram e saíram e voltaram a entrar. Agarraram-se à parede e puseram-se a mirar, como quem não acredita no desplante. A forneirita, lá dentro, nem pestanejava. Uma rainha Vitória!
A dada altura estalou a discussão. - Que o ninho já tinha dono, fui eu quem o construiu, matei a cabeça nele, o trânsito no estreito é que atrasou a chegada! - Pois achei-o devoluto, vi-o sujo e desprezado, passei-lhe o sobrado a pano! Paguei dízima e as moras! A forneirita acabou por alegar as leis de usucapião. E as andorinhas lá foram, a ruminar entredentes.
Dias depois acordei num sobressalto, corri cá fora, rosnei uma asneirada. Era uma esquadra da nato que chegara, aquela gente das bombas inteligentes que a mordem pela calada. Entravam às parelhas em picada, faziam rebentar ondas de choque, cheguei a temer-me das vidraças. Propus logo um armistício.
- Qual armistício, qual quê?! A nato existe pelas liberdades, garante soberanias, guarda civilizações!
Aturdida, a forneirita bateu em retirada. E até eu me recolhi, portas trancadas, já temendo uma líbia no alpendre.
Depois disso instalou-se o casalito. Pôs alguma ordem nos destroços, pediu um fundo de reconstrução, mandou fechar a marquise para cortar a cieirada impenitente. Agora choca a ninhada e dá-se comigo às boas. Já me prometeu ajuda nos pulgões das favas, ainda estou à espera dela. E se esqueci utopias juvenis, perdi em causas quanto ganhei em sossego. Porque a loiça é toda outra, com gente civilizada!