quinta-feira, 2 de maio de 2013

Acerca da muita tralha que um cristão se vê forçado a aprender, em pós-laboral e regime intensivo, por ser tão ignorante, e por causa dum farsante que usa sotaque hemiplégico

Do alto duma certa sobranceria estética, nunca soube nada de economia ou de finanças. Sempre vi nelas um trabalho de zelota, encarregado de limpar os esgotos do mundo e calcular-me o salário ao fim do mês. Suspeito que muitos compatriotas pensavam a mesma coisa.
Porém os últimos tempos, com 40% do orçamento perdido, têm sido um livro aberto. E forçaram-me a aprendizagens exóticas e intensivas, filhas da sobrevivência. Tenho aprendido coisas mirabolantes, de cuja realidade nunca suspeitei. Bem avisado andava o Garcia de Orta, há muitos anos, mais se aprende hoje num dia em Portugal, do que em cem anos no tempo dos romanos.
Isto muito embora a coisa seja confusa, para quem não pertença à seita dos iniciados. Porque nunca é a mesma coisa ouvir perorar o Félix, ou o Catroga, ou o Cadilhe, ou o Cantigas, ou o Moedas, ou o Borges, ou essa velha sibila da Ferreira Leite. Ou o Gaspar, um incensado guru desta ciência. Esse ministro do discurso sincopado, por causa do puro medo que sente das palavras, por saber que elas tomam o freio nos dentes e podem muito bem, se lhe apetece, dizer ao mundo inteiro que se foda. E isso é que ele não pode tolerar, porque tem aquele encargo de o conservar em ordem e de lhe limpar as fossas. Por isso construiu aquele sotaque hemiplégico, para dar um ar de pensador profundo, e para nos convencer a todos de que é ilustrado e sensato. Mas na verdade é uma questão de medo, não vão as palavras confessar que ele é um psicopata social. O seu tique é um CDS, quer dizer, um Credit Default Swap, para evitar a falência pessoal.
E o que é isso do Swap, hoje em dia tanto em voga?! É um produto financeiro, que os banqueiros inventaram para ganhar muito dinheiro, a coisa mais importante que há na vida. Muitos deles, em Wall Street, enfrascam-se em testosterona para afirmarem a virilidade e serem imbatíveis a ganhar dinheiro. O Swap nasceu dessa agreste criatividade, e é uma corda de enforcado que se enrola no pescoço do cliente, para respeitar as práticas de uma gestão a sério. É o que dizem.
A coisa funciona, mais ou menos, deste modo: o cliente pede um empréstimo avultado ao banco A. Pode optar por taxa de juro fixa, ou por taxa de juro variável, sujeita aos caprichos do mercado. Porque o mercado é que manda nestas coisas. Por prudência e para fugir a surpresas, o cliente escolhe a taxa fixa, apesar da barreira dum spread adicional que o agiota lhe impõe. Para o conseguir pagar faz um contrato Swap. Isto é, contrai outro empréstimo junto banco B, cuja taxa de juro depende da Euribor, uma arma secreta que os banqueiros utilizam para ganharem sempre em todos os tabuleiros. A partir desse momento, o banco B paga ao banqueiro A os encargos da dívida inicial do seu cliente. E o cliente paga ao banco B os encargos do Swap.
Quando a taxa Euribor sobe, o banco B paga ao banco A a taxa fixa da dívida original. E o cliente paga ao banco B uma taxa que é maior. O banqueiro B ganhou.
Quando a taxa Euribor desce, o banco B continua a pagar a mesma taxa fixa ao banco A. E o cliente deveria pagar ao banco B uma taxa menor. Ganharia o banco A, e sobretudo o cliente, que veria a prudência premiada. É então que se desvenda o que chamam casos tóxicos, (alguns preferem exóticos!), de mais elevado risco. Porque além da Euribor entram na fórmula inesperados factores, tais como a cotação do petróleo, as taxas de câmbio entre moedas, e outras manigâncias que tornam a equação indecifrável, tão fluida quanto imprevisível. Aquela que um bom gestor um dia assinou de cruz, em nome duma gestão acautelada, quem sabe em troca duma benesse qualquer. E foi a banca que voltou a ganhar.
Isto apenas surpreende em demasia um bom cristão que andar a dormir na forma. E acontece sempre a quem insiste na criação de galinhas, com a matilha inteira das raposas a viver no galinheiro. Se o cliente for uma empresa pública, o resultado acaba por ir parar à dívida soberana, a cargo dos contribuintes. E mais festivo se torna se for o cabrão do Sócrates o culpado disto tudo. Conforme já informou, em seu devido momento, o ministro dos discursos hemiplégicos.