Sempre que o compadre estendia a rede entre os dois ulmeiros
do quintal, para a grande sesta das duas, lá entrava de serviço o bodigarde.
Perseguia as borboletas distraídas que vinham tropeçando na brisa, e as vespas
que vinham no encalço das borboletas, e as lagartixas que corriam atrás das
vespas de cabeça no ar, e as lesmas que se divertiam a cortar o rabo às
lagartixas, e ficavam a vê-los dançar a polca. Nos intervalos treinava a
pontaria às fisgadas aos pardais. Claro que tudo isto eram brincadeiras de
criança para um rambo daqueles, habituado às emergências da floresta virgem. E
o compadre aparício ressonava, sorridente como um anjo nos mirantes do céu.
Foi ontem que a desgraça aconteceu, e diz quem viu que tudo
foi assim. Um moscardo poisou na testa do compadre, andava o macaco a afugentar
um qualquer insecto secundário. Há quem lhe tenha vislumbrado na face um
exótico brilho, mas ninguém o pode assegurar. Vendo de longe a iminência do
perigo, e por certo sem medir as consequências, o cérbero investiu à pedrada.
Com tamanha eficácia que deixou a cabeça do compadre aparício aberta ao meio,
pareciam duas metades dum melão espanhol.
Ainda estou a ver a satisfação do pobre compadre, quando
chegou da expo. A contar-me a euforia do homem grande da tribo dos maconhas,
todo contente por retribuir, enfim, o colar de missangas, que o vasco da gama
lhe ofereceu quando passou no congo, há um ror de anos.
[***Eco de 2002]