sábado, 28 de julho de 2012

E calem-no!

Na edição de 14 de Junho, o Sr. Rui Marques ocupou no PÚBLICO uma imensa coluna, a que deu este título: Um imenso Portugal.
Para além de ser assessor do projecto cultural Sotaques Brasil/Portugal (que não imagino o que será), eu nada sei do Sr. Rui Marques. Não sei nem quero saber, já que me basta o que mostra a sua imensa coluna: um visionário que vem para a praça pública, bêbado de mitos em que não acredita, mas porém usa para encher de poeirada os olhos da populaça que não lê as epopeias, nem mata a fome com elas. 
Pertence à conhecida escola de farsantes que há séculos nos educaram como somos, alienados da realidade, de preferência a dormir, para melhor nos sujeitarmos ao fadário de penúria a que eles nos condenaram. Vêem-nos como gado e assim nos tratam, em proveito próprio.


Foi assim. Como um milagre terreno, impossível: um país pequeno, periférico, empurrado pela vizinha Castela, que se fez ao mar à procura de si próprio, da sua identidade.


É aqui que o Sr. Rui Marques situa o nosso big-bang original, a nossa explosão histórica. Miraculosa, ainda por cima. Depois dela foi só a acelerar. Confundindo indescritivelmente a peripécia épica com a história, a realidade com a ficção, o Sr. Rui Marques diz que o pobre do Camões...


sentiu na pele essa viagem contra todos os Adamastores, (...) levando a pátria a mares nunca dantes navegados.


Mas a febre malsã do Sr. Rui Marques não dá sinais de abrandar e leva-o ainda mais longe.


Nunca Portugal foi tão grandioso como n'Os Lusíadas. (...) estamos perante uma aventura monumental de um povo que se lança ao mar, vence os deuses, as intempéries, a morte iminente, sobrevive às armadilhas do destino e se realiza, magistralmente, dando novos mundos ao mundo, abrindo caminhos entre continentes, iniciando a globalização.


Porém, ai de nós!


Camões morre em Portugal a 10 de Junho de 1580, curiosamente ou talvez não, após a perda da independência do país de Espanha, decorrente da calamitosa derrota em Alcácer Quibir. 


Entretanto ninguém sabe onde ficou enterrada a tal identidade.


Mas o seu Canto de um Portugal que se agiganta (...) É o canto de um imenso, infinito, belo e miraculoso Portugal.


Se o Sr. Rui Marques não for o Pinheiro Chagas redivivo, é o mafarrico por ele. É muito parecida a sombra que nos deixará nas vidas. Vá lá, ponham-lhe o nome à esquina duma rua e calem-no!