No Porto, que desde há uma dúzia de anos tenho tido alguma paciência para aturar, foram, entretanto, acontecendo coisas: uma fundamental, duas indispensáveis, e um caudal festivo de equívocos e oportunidades perdidas.
A coisa fundamental aconteceu na Universidade, que se tornou um campo modelar na Engenharia, na Arquitectura, e eventualmente noutras áreas.
Que nunca doa a cabeça ao escol universitário que isso fez. E oxalá que os Relvas, à boleia da crise, não tenham capacidade para o abandalhar.
Uma coisa indispensável foi o arranjo da frente ribeirinha. Mas a mais importante foi o metro. Além de ajudar a resolver os problemas do trânsito urbano, que não tinham outra solução, o metro é o único local que o povo usa, e onde entra e se comporta, como se não vivesse no séc. XIX.
Espera-se que os Relvas lhe expandam a rede, e o suportem financeiramente, e os conflitos de interesses que os dilaceram por dentro não acabem por afogá-lo no rio.
Já os equívocos são uma cascata deles. A Casa da Música, que o holandês impingiu à cidade, foi o mais caro de todos e foi a perda maior. Serralves e o seu museu é o lugar onde melhor se passeia e mais fundo se embrutece, com tanta pós-modernidade. A praça dos Aliados tornou-se num deserto desgraçado, que nem o próprio Porto merecia. O edifício transparente, que o Calatrava inventou, ali ao fundo do parque da cidade, é o maior conto do vigário. Resta o Bolhão a morrer, os clássicos da Boavista com que o Rio se diverte, e a movida nocturna que a chavalada mais nova copia da Wikipédia. O património antigo, o da Unesco, aqui vai sendo entaipado, mais além desaba, na encosta.
Sobram, claro, os burgueses do Porto, e os pergaminhos de lata que carregam aos ombros. Mas esses mostram-se pouco, que os tempos já são outros. Não vale a pena perder tempo com eles.