segunda-feira, 30 de julho de 2012

À nossa custa

Há por aí luminárias curiosas. Um dia lembram-nos que Portugal é um país pobre. E que até foi por isso que se aventurou à Índia, para escapar à penúria. Como se isso fosse verdade.
Outro dia dizem-nos que os portugueses são pobres porque querem, porque lhes falta a pica do risco, porque não são dados à iniciativa, porque não são empreendedores, nem são ousados como os povos ricos.
Nunca nos dizem que os suíços eram montanheses que viviam nos Alpes, cobertos de peles de urso, quando eles nos levaram para a Índia.
Nunca nos dizem que os suíços foram à escola, e à oficina, e à vida organizada e criativa, enquanto nós andámos séculos à ventura, a fazer filhos às pretas debaixo das palmeiras.
Nunca nos dizem que uma economia organizada e eficaz leva muito tempo a construir, não se improvisa numa geração.
E sobretudo nunca nos confessam - esses que nos censuram a preguiça e a pobreza - que eles mesmos nos quiseram assim, em seu próprio proveito.
São uns filhos da puta que nos talharam um fadário triste e vivem há séculos à custa dele.