Não levava promessas a cumprir, porque as não faz. Tão pouco
ia à procura de indulgências em que não acredita. Mas lá tinha as suas crenças num
orago velho, ou nalgum milagre dele, o seu país mais antigo da Europa.
Foi por montes e por vales, por estradinhas antigas e
modernas, por veredas, por carreiros, por atalhos. Viu paisagens e castelos,
viu obras pias e muitas malfeitorias, viu escassas alegrias e uma grande
solidão. Já de maravilhas e milagres não enxergou sinal.
Encontrou terras e bichos e almas penadas, e escassas gentes
que ouviu e a quem se deu a ouvir. Se for verdade que no pouco se vê o muito,
viu um país partido em dois países. Um que ficou com a história mas perdeu o
futuro, a arquejar debaixo dela. E o outro que se agita à procura do sucesso,
alheado do passado, bêbado de ilusões. De tudo quanto deu fé deixa relato.
O leitor encontra nele verdades e fantasias, muitos desejos
e realidades duras, e glórias mais passadas que futuras. Não se querendo confiar,
o mais que o leitor tem a fazer é ir lá ver. Porque os países da literatura são
todos inventados. Só existem se lá formos.