quarta-feira, 25 de julho de 2012

Preâmbulo

É muito antigo o espírito do romeiro, que vai ao encontro do sagrado à força duma fé. Este peregrino guarda o seu bem preservado. E um dia calçou as botas e meteu pés ao caminho, per agros foi, fez o que lhe competia.
Não levava promessas a cumprir, porque as não faz. Tão pouco ia à procura de indulgências em que não acredita. Mas lá tinha as suas crenças num orago velho, ou nalgum milagre dele, o seu país mais antigo da Europa.
Foi por montes e por vales, por estradinhas antigas e modernas, por veredas, por carreiros, por atalhos. Viu paisagens e castelos, viu obras pias e muitas malfeitorias, viu escassas alegrias e uma grande solidão. Já de maravilhas e milagres não enxergou sinal.
Encontrou terras e bichos e almas penadas, e escassas gentes que ouviu e a quem se deu a ouvir. Se for verdade que no pouco se vê o muito, viu um país partido em dois países. Um que ficou com a história mas perdeu o futuro, a arquejar debaixo dela. E o outro que se agita à procura do sucesso, alheado do passado, bêbado de ilusões. De tudo quanto deu fé deixa relato.
O leitor encontra nele verdades e fantasias, muitos desejos e realidades duras, e glórias mais passadas que futuras. Não se querendo confiar, o mais que o leitor tem a fazer é ir lá ver. Porque os países da literatura são todos inventados. Só existem se lá formos.