O velho Portugal sofre de cataratas. Pelos vistos sem remédio. Há séculos que elites oligárquicas, de mão dada com a Igreja, lhe parasitam a alma, a modernidade e o futuro.
Nunca isso foi tão claro como é hoje, apesar dos burladeros. Porém Portugal não vê, distraído com espantalhos.
(1870)
"Ao meio-dia na cama,
Branca fidalga o que julga
Das pequenas da su'ama?!
Vivem minadas da pulga,
Negras do tempo e da lama.
Não é caso que a comova
Ver suas irmãs de leite,
Quer faça frio, quer chova,
Sem uma mamã que as deite
Na tepidez duma alcova?!"
[Cânticos do Realismo, O livro de Cesário Verde, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lx, 2015]