O Porto recebe-me de boa catadura, por uma vez primaveril, amistoso e soalheiro. Só a central de camionagem destoa. O seu estado geral é cada vez mais ruinoso. As lajes de granito da entrada, ainda passeio da Alexandre Herculano, estão todas partidas e traiçoeiras. O trânsito de passageiros e turistas é crescente, e é neste falanstério que a cidade os recebe, sem vergonha.
O serviço na messe dos almirantes é cada vez mais precário, a sublinhar o facto de que as Forças Armadas têm sido um dos principais sectores das grandes malfeitorias do governo de piratas que aí houve. Por restrições orçamentais, os pilotos da Força Aérea realizaram 18 mil horas de voo das 25 mil programadas. Pondo em causa a prontidão de alerta sem horário, a vigilância, a busca e o salvamento no espaço aéreo e marítimo, cuja cobertura põe a salivar os espanhóis há muito tempo.
O Estatuto dos Militares das Forças Armadas (EMFAR) foi alterado pelo governo, sem contraditório.
Os hospitais militares foram reduzidos à unidade do Lumiar, onde é impossível albergar todos os outros, que foram desactivados quando ainda não vendidos. O resultado é uma brutal degradação do serviço prestado às FA, em benefício dos hospitais privados.
Os Serviços Sociais das FA foram desmembrados, e o IASFA que daí resultou foi transformado em instituto público, entregue à gestão duns futricas boys e girls do PPD, com a presença dum único general que nunca foi designado.
A contribuição individual para a assistência na doença (ADM) subiu para 3,5%, e engloba responsabilidades da Associação dos Deficientes das FA a que o governo se comprometeu mas nunca respeitou.
O Fundo de Pensões dos militares, criado e financiado pelos sócios, foi simplesmente liquidado. As Associações Socio-profissionais são menosprezadas, para não dizer clandestinas, numa Europa onde há décadas existem sindicatos de militares, aceites e respeitados.
A congelação de carreiras, os cortes de salários e pensões e a redução de apoios a idosos têm sido uma sucessão de agravos à condição militar, sendo lícito dizer que as FA hoje não existem. Se um dia for necessário lá teremos que ir chamar de novo o Conde de Lippe e alegar o mito da aliança inglesa da ínclita geração para dar um jeito à coisa.
No dia seguinte regresso à Lapa mas já chove. Passo a ponte do Infante a olhar com nostalgia as escarpas da margem, a despenhar-se no rio.