O burgo não acordava assim em pé de guerra, com a praça tomada de assalto, desde os tempos do Beresford, ou da caçada aos malhados, ou outras aventuras igualmente galantes. Desta vez o fito era mais sério, era lúcido e era patriótico.
Tratava-se do protocolo estabelecido entre o Exército Português e a autarquia, na celebração da Batalha de S. Marcos (o recontro de Trancoso), a 29 de Maio, dia do feriado municipal.
O rei Fernando Formoso morrera sem herdeiro varão, e a filha Beatriz casara com D. João, rei de Castela, que assim reivindicava o trono de Portugal. Instalara-se a crise de 1383/85. Os castelhanos vieram por Almeida, por Pinhel, e tinham ido a saquear Viseu. Dizem que foi ali um regabofe!
As elites fidalgas fizeram o costume, o que ainda hoje fazem com o maior dos desplantes: a maior parte dos alcaides de praças e castelos passaram-se para o lado de Castela. Esse facto viria a alimentar a veia lírica das cantigas de escarnho e maldizer, que ainda sobrevivia dos tempos trovadorescos.
Regressavam a casa, os castelhanos, com o saque ao lombo de setecentas azêmolas. E foi ali a S. Marcos que os alcaides de Trancoso, de Linhares e da Vila das Aves foram esperar por eles. O mestre de Aviz, o Condestável do reino e futuro João I, andava por Guimarães, e tinha Elvas cercada por Castela.
Apesar da colossal desproporção e qualidade das forças, ao fim dum dia inteiro de escaramuças os castelhanos acabaram destroçados. Mas voltariam em breve. Em força. A Aljubarrota. E a história aí já canta doutro modo.
O município comemora estes eventos e faz bem. O Exército participa, e faz melhor. Foi a partir da batalha de Trancoso que se instalou a farronca, ainda hoje adaptada para imitações: - Quem se mete com beirões, leva!
E é verdade, é a história que o atesta! Do ponto em que seja um par dos bons, que é muito raro!