terça-feira, 2 de junho de 2015

Pão e laranjas

O povo compareceu, respeitando a tradição da romaria a São Marcos. E assistiu ao içar da bandeira, com guarda-de-honra e fanfarra.
Falou o clero, pela voz dum capelão que exaltou os patriotas. Falou a nobreza, das entidades militares e civis, que arengaram de heróis de ontem e de agora. Mas ninguém disse ter sido esse o momento derradeiro em que os portugueses tiveram um país. Pois desde então as elites inventaram um império de ficção. Penduraram-lho ao pescoço, lançaram-lhe na escudela muitos mitos e gestas gloriosas, e transformaram o povo em gado de exportação. Encheram disso a barriga, ainda hoje disso vivem. Ninguém o disse e foi pena!
Veio depois a reconstituição da batalha, com soldadeiras e achas de armas, e ginetes façanhudos que acometeram surgidos do matagal.
 
No fim distribuíram às crianças o pão e as laranjas que a tradição ordena. Diz a lenda que os portugueses puseram os castelhanos a pão e laranjas, há seiscentos e tal anos. Bons tempos esses!