Nas sociedades primitivas e bárbaras a mulher era uma presa. Sexual, laboral e parideira. Era um objecto de posse. Só a socialização moderna pôs em causa esse estatuto, que ainda está em vigor.
Vejam-se todas as guerras, as antigas e as modernas, e o papel que reservavam à mulher. Vejam-se as jovens escolarizadas, 30% das quais encaram a violência relacional como manifestação de amor. Veja-se a vida na aldeia, em que os velhos atavismos mais perduram.
As mulheres integraram o estatuto e já não passam sem ele, num terreno movediço disputado por conceitos em conflito, como a igualdade de género, a violência doméstica, o sentimento de posse e o piropo.
É muito rara a mulher que se mantém indiferente ao assédio e à intrusão do piropo, com pimenta e sal no ponto. Mas isso pisa os terrenos ambíguos da coqueteria e do amor-próprio.