quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Ministério da Cultura da "outra senhora"

LEGENDA
Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas
Só necessito que tu existas
        David Mourão-Ferreira


Nos finais da década de cinquenta, a Gulbenkian mandou a Inglaterra o Branquinho da Fonseca observar o serviço de bibliotecas itinerantes. E instituiu-o em Portugal em 1958.
Mais tarde foi dirigido por António Quadros, por Mourão-Ferreira, pelo Graça Moura e finalmente pelo Virgílio Ferreira.
O encontro sobre o tema decorreu ao fim da tarde, no relvado da BMEL, trocando impressões com o encarregado Prata que nisso trabalhou quarenta anos. Algumas delas bem surpreendentes: o O'Neil e o Herberto Helder tiveram essa função.
A Gulbenkian era já o Ministério da Cultura do fascismo lusitano. E as bibliotecas itinerantes, da Citroën ondulada, alargaram a questão à Educação. Centenas de lugares visitados mensalmente, e milhares de utilizadores, tiveram por uma vez acesso ao livro.
Foi uma verdadeira lança em África, para não dizer um escândalo. Que ainda hoje surpreende quem nunca fez uso delas nem tinha pensado nisso. 
Nem nas contradições que o serviço levantou: padres que pediam em privado O Crime do Padre Amaro, e muitos outros que, do altar para baixo, proibiam o povo de lá ir; professores que as desaconselhavam, e outros que lhes fechavam os olhos; polícias que abusivamente apreenderam livros.
O serviço das itinerantes da Gulbenkian ocupou um escasso nicho em que as normas eram omissas. Só por isso conseguiram existir, até que foram extintas na década de noventa.