sábado, 2 de maio de 2015

Pazes feitas

[Com um pensamento a Rentes de Carvalho]
As palmeiras são árvores que menosprezo, por aqueles ecos que me trazem, de séculos duma história tresmalhada. Mas uma espécie indígena me comove. É uma palmeira peluda, fértil, fêmea, que ramalhava numa infância longínqua. 
Um dia fui ver a aldeia, e encontrei no jardim das camélias dois troncos estendidos no chão. Era o que sobrava das palmeiras, vitimadas por um machado iníquo. Ficaram ali uns anos, a gemer, até que desapareceram.
Ontem fui buscar na camioneta uma palmeira peluda. Encontrei-a há quinze dias, num viveiro à beira da estrada. Já está na horta, no lugar que lhe compete. E eu reconciliei-me com a vida.