Durante uma dúzia de anos tive a sorte de colaborar como leitor voluntário na Sonora da BPMP, ali a São Lázaro. Um serviço notável criado em 1972 sobre modelo inglês da Students Tape Library do Royal National Institute for the Blind.
Foi assim que li, integralmente, o que não teria lido, sorte minha. Exemplos disso são o Don Quixote, e a célebre tradução da Odisseia, que o Tolentino Mendonça fez verso a verso. Faz-me falta ter gravado o Ulisses do James Joyce, era oportuno. Sobretudo porque, uma vez começada, já não se pode interromper a leitura, como acontece cá em casa.
O osso mais duro que roí tinha 800 páginas. Foram os Comentários do Colégio Conimbricense duns escolásticos do séc. XVI, ao Tratado De Anima do Aristóteles, sobre a natureza da alma. Passei páginas e páginas e páginas a atravessar o deserto, isolado na cabina, sem que pudesse entender uma palavra!