quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Mais um toma, do Vale Ferraz!

«A frase vem do mundo da bola, treinadores, jogadores, dirigentes, adeptos, comentadores e apanha-bolas em geral. E, vindo do mundo da bola, é genuína como o caldo verde, a entremeada e a banha da cobra. É a opinião de quem conta. De facto reflecte, mais do que o hino, um estado de alma nacional. O resultado aceita-se. Podia ser outro, em princípio melhor, mas foi este. Não vale a pena chorar por leite derramado. A frase serve para tudo. É a nossa visão da nossa História: o resultado aceita-se. O resultado da monarquia abandalhada a todos os títulos, a começar pela vida pessoal do rei Carlos de Bragança, aceita-se. Deu na República e o resultado desta também se aceita, pela mesma incapacidade de encontrar uma forma de convivência nacional de estabelecer prioridades da anterior. O resultado foram 47 anos de ditadura. Aceitável durante muito tempo por muita gente. Salazar, tal como os resultados da selecção de futebol e do Festival da Eurovisão, aceitava-se. O 25 de abril também se aceitou, com o fim da guerra que se embrulhou com o fim de um periclitante império colonial e deu uma democracia de fim de tabela, mas que evita a descida e que se aceita, mas pela qual não se luta. Aceita-se como os jovens de há 50 anos tomavam óleo de fígado de bacalhau. O resultado da vinda do FMI e, recentemente, da Troika, também se aceita: a generalidade dos portugueses está mais pobre e a elite que mama nos negócios do Estado muito mais rica. Já aceitamos estrangeiros a tomar conta de nós desde a dona Filipa de Lencastre, pelo menos, neste caso com bons resultados: graças a ela durante 100 anos tivemos a maior agência de viagens do planeta, a melhor indústria naval e militar e a melhor construção em pedra de geniais inutilidades que são hoje património da humanidade, caso dos Jerónimos, da Torre de Belém e do Convento de Cristo em Tomar. Diga-se. Temos de aceitar e levantar a cabeça, dirão os pensionistas, os funcionários púbicos, os doentes do SNS, como os jogadores derrotados. Levantar a cabeça e levar nos cornos. Resmungam os velhos do Restelo. É o fado que nos cantam: Foi o resultado de vivermos acima das nossas possibilidades – o resultado aceita-se. Todos a fazer de Ricardo Salgado, de Jerónimo Martins, de Amorim, de Lili Caneças, de Pimpinhas e Pimpões. Não há lagosta nem lavagante que aguente. Hoje o défice devia ser 3%, parece que vai ser 4%, ou 10%, mas o resultado aceita-se, diz o chefe do governo e a ministra das finanças – uma Joana d’Arc das contas públicas. Tão analfabeta na matéria como a donzela de Orléans quanto a letras e leituras. Mas cheia de fé. O resultado do desemprego também se aceita. Até é previsível que aumente a partir de outubro. Um dos ministros do desemprego já deu a explicação duas vezes, sempre por esta altura de arrumar as barracas de praia: acabaram as mordomias dos que vendiam bolas de Berlim, alugavam gaivotas, serviam lamejinhas e caracóis. É tempo de irem para a apanha clandestina de bivalves, ou para a Suíça fazer camas de hotéis. O resultado do crescimento económico do esperado 0,6% para 0,3%, depois de uma previsão inicial de 1% também se aceita. As coisas estão más, ninguém nos compra nada. Para o ano será melhor, com a introdução no PIB dos negócios da droga e da prostituição. Estão 2 ministros em contentores, a da justiça e o da educação, a das finanças está fora de jogo, o dos negócios estrangeiros está empalhado, o da defesa está no Porto, o do interior anda por aí a cumprimentar polícias e bombeiros, a da agricultura anda em viagem de estudo pelas feiras e romarias, mas o resultado aceita-se. O resultado não diz só respeito aos rebenta canelas convocados para as quatro linhas, também temos de aceitar os do balneário à espreita de uma oportunidade de mostrarem o seu valor. O resultado das eleições para as federações do PS também se aceita. Costa e Seguro têm ambos argumentos para dizer que não foi mau, se os mortos e os em parte incerta votam, é bom sinal: juntos não somos demais! Os diletantes do costume, entre os quais me incluo, dizem que não aceitam o que se passa, mas aceitam o resultado das sua boas intenções: uma caixa de bolos sortidos no meio de uma mesa de piquenique. Para os camaradas de Jerónimo tudo vai bem, isto é: há um mal que sempre dura, o que justifica a CGTP, a festa do Avante e a existência de um exorcista. O resultado do exorcismo aceita-se. Não cura, mas os crentes saem aliviados das suas dores. Aceita-se que Portugal tenha um Partido Exorcista, que se chama oficialmente Comunista. Aceita-se. O resultado da distribuição de pelouros dos comissários europeus também se aceita, ou vai aceitar. O nosso Moedas tem um pelouro significativo. Com gabinete, chefe de secretaria e motorista. Aceita-se e agradece-se. Bom era ter-lhe calhado a da política da vizinhança. Ele é pequenino, sossegado, deve ser bom vizinho, mas se calhar era pedir muito. A investigação vai-lhe bem. Vem de um país de investigadores, e não, como se tem dito de descobridores.  Veja-se o histórico do resultado das comissões parlamentares de inquérito. Nem saberíamos aceitar uma conclusão de investigação com consequências. Aceita-se que não tenham resultado. Somos investigadores dedicados e em exclusividade. O Moedas vai ser uma lapa na investigação. Podia começar por explicar aos colegas que a investigação do caso da queda do avião em Camarate em 1980 ainda esteja em comissão. O resultado da investigação do processo do BPN também se aceita. Entre o nunca e o mais tarde temos de aceitar o nunca. Os netos dos arguidos serão julgados pelos netos dos juízes. O resultado do caso Face Oculta também se aceita. É extraordinário e temos de aceitar que a justiça tivesse sofrido de um espasmo. Desta é que foi, aconteceu em Aveiro. Vivemos numa terra de milagres e até tivemos um fuzilado para exemplo na I Grande Guerra. Uma réplica do coice da mula, a justiça de uma mulher do Cartaxo sobre os franceses do general Maneta. Remédio santo, quando lhes acertava. O resultado dos negócios criativos no BES ena PT aceita-se. Ricardo Espirito Santo, ZeinalBava, Henrique Granadeiro meteram golos na própria baliza. Belos golos. Aceita-se. Faz parte do jogo. As bolas que eles meteram eram as nossas, mas que se há-de fazer! E tinham todos tão bomaspeto!Fomos roubados, mas o resultado aceita-se. O resultado dascomissões dos submarinos, dos helicópteros, dos blindados também se aceita. Foram-se as contrapartidas, mas salvaram-se as despesas com as PPP, com os SWAPS, as comissões nos offshores e o Portas subiu a vice primeiro ministro. A propósito, também se aceita que o presidente da República aconselhe a comprar acções de bancos falidos e depois rume ao Algarve…Felizmente não aconselhou a comprar dióspiros, que dão diarreia…
Os resultados das saídas de Paulo Bento da velha seleção, como do Vitor Bento do novo banco também se aceitam, só não se percebe é quais os negócios que estão por de trás….O  que se aceita porque o segredo é a alma do negócio.
Eu, se estiver a uma mesa com faquistas, aceito que eles não vão usar a faca para espalhar manteiga…  só não sei em quem a vão espetar… mas o resultado aceita-se, claro…e só espero que não me calhe a mim.
O resultado aceita-se quer dizer que tudo vai continuar na mesma. Para quê alterar o funcionamento de uma organização, ou o comportamento de dirigentes e pessoas comuns se o resultado se aceita? O resultado aceita-se desculpa a nossa inércia, a nossa placidez perante a decadência, a nossa forma de não existirmos.»