«A frase vem do mundo
da bola, treinadores, jogadores, dirigentes, adeptos, comentadores e apanha-bolas em geral. E, vindo do mundo da bola, é genuína como o caldo verde, a
entremeada e a banha da cobra. É a opinião de quem conta. De facto reflecte,
mais do que o hino, um estado de alma nacional. O resultado aceita-se. Podia
ser outro, em princípio melhor, mas foi este. Não vale a pena chorar por leite
derramado. A frase serve para tudo. É a nossa visão da nossa História: o
resultado aceita-se. O resultado da monarquia abandalhada a todos os títulos, a
começar pela vida pessoal do rei Carlos de Bragança, aceita-se. Deu na República e o resultado desta também se aceita, pela mesma incapacidade de
encontrar uma forma de convivência nacional de estabelecer prioridades da
anterior. O resultado foram 47 anos de ditadura. Aceitável durante muito tempo
por muita gente. Salazar, tal como os resultados da selecção de futebol e do
Festival da Eurovisão, aceitava-se. O 25 de abril também se aceitou, com o fim
da guerra que se embrulhou com o fim de um periclitante império colonial e deu
uma democracia de fim de tabela, mas que evita a descida e que se aceita, mas
pela qual não se luta. Aceita-se como os jovens de há 50 anos tomavam óleo de
fígado de bacalhau. O resultado da vinda do FMI e, recentemente, da Troika,
também se aceita: a generalidade dos portugueses está mais pobre e a elite que
mama nos negócios do Estado muito mais rica. Já aceitamos estrangeiros a tomar
conta de nós desde a dona Filipa de Lencastre, pelo menos, neste caso com bons
resultados: graças a ela durante 100 anos tivemos a maior agência de viagens do
planeta, a melhor indústria naval e militar e a melhor construção em pedra de
geniais inutilidades que são hoje património da humanidade, caso dos Jerónimos,
da Torre de Belém e do Convento de Cristo em Tomar. Diga-se. Temos de aceitar e
levantar a cabeça, dirão os pensionistas, os funcionários púbicos, os doentes
do SNS, como os jogadores derrotados. Levantar a cabeça e levar nos cornos.
Resmungam os velhos do Restelo. É o fado que nos cantam: Foi o resultado de
vivermos acima das nossas possibilidades – o resultado aceita-se. Todos a fazer
de Ricardo Salgado, de Jerónimo Martins, de Amorim, de Lili Caneças, de
Pimpinhas e Pimpões. Não há lagosta nem lavagante que aguente. Hoje o défice
devia ser 3%, parece que vai ser 4%, ou 10%, mas o resultado aceita-se, diz o
chefe do governo e a ministra das finanças – uma Joana d’Arc das contas
públicas. Tão analfabeta na matéria como a donzela de Orléans quanto a letras e
leituras. Mas cheia de fé. O resultado do desemprego também se aceita. Até é
previsível que aumente a partir de outubro. Um dos ministros do desemprego já
deu a explicação duas vezes, sempre por esta altura de arrumar as barracas de
praia: acabaram as mordomias dos que vendiam bolas de Berlim, alugavam
gaivotas, serviam lamejinhas e caracóis. É tempo de irem para a apanha
clandestina de bivalves, ou para a Suíça fazer camas de hotéis. O resultado do
crescimento económico do esperado 0,6% para 0,3%, depois de uma previsão
inicial de 1% também se aceita. As coisas estão más, ninguém nos compra nada.
Para o ano será melhor, com a introdução no PIB dos negócios da droga e da
prostituição. Estão 2 ministros em contentores, a da justiça e o da educação, a
das finanças está fora de jogo, o dos negócios estrangeiros está empalhado, o
da defesa está no Porto, o do interior anda por aí a cumprimentar polícias e
bombeiros, a da agricultura anda em viagem de estudo pelas feiras e romarias,
mas o resultado aceita-se. O resultado não diz só respeito aos rebenta canelas
convocados para as quatro linhas, também temos de aceitar os do balneário à
espreita de uma oportunidade de mostrarem o seu valor. O resultado das eleições
para as federações do PS também se aceita. Costa e Seguro têm ambos argumentos
para dizer que não foi mau, se os mortos e os em parte incerta votam, é bom
sinal: juntos não somos demais! Os diletantes do costume, entre os quais me
incluo, dizem que não aceitam o que se passa, mas aceitam o resultado das sua
boas intenções: uma caixa de bolos sortidos no meio de uma mesa de piquenique.
Para os camaradas de Jerónimo tudo vai bem, isto é: há um mal que sempre dura,
o que justifica a CGTP, a festa do Avante e a existência de um exorcista. O
resultado do exorcismo aceita-se. Não cura, mas os crentes saem aliviados das
suas dores. Aceita-se que Portugal tenha um Partido Exorcista, que se chama
oficialmente Comunista. Aceita-se. O resultado da distribuição de pelouros dos
comissários europeus também se aceita, ou vai aceitar. O nosso Moedas tem um
pelouro significativo. Com gabinete, chefe de secretaria e motorista. Aceita-se
e agradece-se. Bom era ter-lhe calhado a da política da vizinhança. Ele é
pequenino, sossegado, deve ser bom vizinho, mas se calhar era pedir muito. A
investigação vai-lhe bem. Vem de um país de investigadores, e não, como se tem
dito de descobridores. Veja-se o histórico do resultado das comissões
parlamentares de inquérito. Nem saberíamos aceitar uma conclusão de
investigação com consequências. Aceita-se que não tenham resultado. Somos
investigadores dedicados e em exclusividade. O Moedas vai ser uma lapa na
investigação. Podia começar por explicar aos colegas que a investigação do caso
da queda do avião em Camarate em 1980 ainda esteja em comissão. O resultado da
investigação do processo do BPN também se aceita. Entre o nunca e o mais tarde
temos de aceitar o nunca. Os netos dos arguidos serão julgados pelos netos dos
juízes. O resultado do caso Face Oculta também se aceita. É extraordinário e
temos de aceitar que a justiça tivesse sofrido de um espasmo. Desta é que foi,
aconteceu em Aveiro. Vivemos numa terra de milagres e até tivemos um fuzilado
para exemplo na I Grande Guerra. Uma réplica do coice da mula, a justiça de uma
mulher do Cartaxo sobre os franceses do general Maneta. Remédio santo, quando
lhes acertava. O resultado dos negócios criativos no BES ena PT aceita-se.
Ricardo Espirito Santo, ZeinalBava, Henrique Granadeiro meteram golos na
própria baliza. Belos golos. Aceita-se. Faz parte do jogo. As bolas que eles
meteram eram as nossas, mas que se há-de fazer! E tinham todos tão
bomaspeto!Fomos roubados, mas o resultado aceita-se. O resultado dascomissões
dos submarinos, dos helicópteros, dos blindados também se aceita. Foram-se as contrapartidas,
mas salvaram-se as despesas com as PPP, com os SWAPS, as comissões nos
offshores e o Portas subiu a vice primeiro ministro. A propósito, também se
aceita que o presidente da República aconselhe a comprar acções de bancos
falidos e depois rume ao Algarve…Felizmente não aconselhou a comprar dióspiros,
que dão diarreia…
Os resultados das
saídas de Paulo Bento da velha seleção, como do Vitor Bento do novo banco
também se aceitam, só não se percebe é quais os negócios que estão por de
trás….O que se aceita porque o segredo é a alma do negócio.
Eu, se estiver a uma
mesa com faquistas, aceito que eles não vão usar a faca para espalhar
manteiga… só não sei em quem a vão espetar… mas o resultado aceita-se,
claro…e só espero que não me calhe a mim.
O resultado aceita-se quer
dizer que tudo vai continuar na mesma. Para quê alterar o funcionamento de uma
organização, ou o comportamento de dirigentes e pessoas comuns se o resultado
se aceita? O resultado aceita-se desculpa a nossa inércia, a nossa placidez perante a decadência, a nossa forma de não existirmos.»