Quando frequentei a Uninova, num processo de reconversão
profissional que o fim do PREC tornou inevitável, já eu era mais que veterano. Ainda
hoje me lembro de alguns amigos futricas, a cantar de galo à mesa do café, naquele
Verão escaldante. – É preciso aproveitar
a oportunidade histórica de implantar o socialismo! - Diziam isto com ar compenetrado,
apelando-me aos galões, lá saberiam porquê. Isto enquanto analisavam os avanços da distensão entre blocos, que alguém andava a discutir na
Escandinávia. E foi assim, para a futricada comum. No fim do Verão, a vidita lá seguiu
sem sobressaltos, enquanto a minha dava uma volta completa, a desenhar cambalhotas. Mas não podia ser
de outra maneira.
As instalações eram as do velho Trem-Auto, ali à igreja
de Fátima, e não tinham ainda aquele aspecto de cárcere blindado, que mais
tarde edificaram ao logo da avenida. Havia azulejos polícromos nas paredes do
primeiro andar, e uns renquezitos de murta em volta dum jardim. O mesmo chão
era o empedrado antigo, e estavam inteiras as rampas onde os mecânicos içavam
os tanques, para lhes poderem esmiuçar as tripas. E no final das manhãs, quando
acabava a semiótica e a gramática generativa, lá íamos à procura dum almoço de chamuças
num estanco da Poeta Mistral.
Aparte uns poucos cabotinos descomprometidos,
que a idade tornaria cada vez mais translúcidos, o grosso da frequência era o
mulherio juvenil das Letras. E havia mestras novatas, assistentes, que repartiam entre si a pouca
sabedoria e a muita falta de maturidade. De modo que o mulherio aproveitava
para dar que fazer à língua. Era então que algumas delas me pediam emprestada a
veterania, quando algum desassossego ameaçava motim.
Um dia lembrei-me da tabuleta do 12, e declinei-a: - Quem conversa com o guarda-freio torna-se
moralmente responsável…
Nenhuma delas guardava na lembrança coisa semelhante!