E em Portugal?!
Em 2005, o primeiro governo de Sócrates herdou do PPD um
défice de 7%, e uma dívida que rondava os 90% do PIB. Em 2007 estava em 2,9%. Em 2008 chega da América a maior crise
financeira que o mundo vira desde há 80 anos, com o perigo de ruína do sistema
bancário. O Lehman Brothers faliu. E a resposta das instâncias da União
Europeia para enfrentar a situação foi no sentido das políticas
contra-cíclicas, recomendando investimento público. Chegado tão atrasado ao progresso europeu do pós-guerra, Portugal
ensaiava um salto notável nas frentes da Educação, da Saúde, das
infra-estruturas, das novas tecnologias. Mas em 2009 e 2010 o défice voltou a
subir.
A Grécia sucumbiu às agências de rating, aos especuladores do juro da dívida e às loucuras
armamentistas. Pouco depois a Irlanda claudicou perante o estoiro bancário e a chegada
da troika. E Sócrates, já no segundo governo em minoria, corrigiu o tiro e apresentou
o PEC IV, depois de assegurar o aval da Europa. É claro que o PEC IV propunha
restrições, contenções e cortes na despesa. O PEC IV era o mal menor, tantas
vezes o último gesto inteligente e sensato. Os juros da dívida foram galopando,
e as agências de rating fizeram o seu
papel, que é conhecido.
Há seis anos que este Sócrates vinha sendo sujeito a uma
campanha suja, sistemática e selvagem, de assassinato político e pessoal, nunca
vista desde os tempos do marquês de Pombal, esse facínora. Moveram-na, ou
associaram-se a ela, escroques refinados, fascistas pintados de fresco, diletantes cínicos, estalinistas confusos, idiotas úteis, iletrados básicos e taxistas bastantes. Nem a Presidência da
República do inútil Cavaco se coibiu de participar activamente nela. E era este
o momento oportuno para a Viradeira. Dirigido por escroques, por incompetentes,
por cafres iletrados chegados dum sertão, era este o momento que o PPD aguardava
para assaltar o poder, em conluio com o homem da Quinta da Coelha. Ao mesmo
tempo que apagava do discurso a grave crise internacional, toda a direita
berrava que já se fazia tarde para mandar entrar a troika. E ela trazia-lhe de
facto o que faltava: a oportunidade de voltar ao poder, e um programa para
“ajustar contas atrasadas” com o país que saíra de Abril.
Sócrates resistiu enquanto pôde e avisou. Mas o PEC IV
foi recusado pelo parlamento, onde os demagogos da direita caceteira se
misturaram alegremente com os demagogos da esquerda messiânica. Sócrates
apresentou a demissão. E a cumplicidade oportunista do comité central e do BE
levaram ao altar o Passos mais o Relvas. Pregava então a luminária Louçã que recusar o PEC IV era já iniciar a saída da
crise!
Depois disso a direita ganhou as eleições, com enganos, com
truques, com trapaças, e encurralou o povo na tragédia conhecida. O BE duns
tantos aventureiros dissolveu-se em boas intenções. Um comité central
estalinista, inútil e sectário, a viver no tempo das cavernas, ganhou cinco
pontos no mercado eleitoral, alcançando plenamente os seus objectivos. Portugal
retrocedeu algumas décadas. E as elites, as antigas e as modernas, fizeram estalar
a rolha do champagne.