Conduzida por elites financeiras e empresariais rapaces,
a América tinha necessidade vital de reverter as regras da vida política
democrática. E precisava dum pretexto para dar livre curso aos seus objectivos imperialistas,
de controlo geo-estratégico e energético do mundo, sem ferir em demasia as
muitas opiniões públicas. É neste
contexto que entra em jogo a peripécia
das Torres Gémeas.
A América destruiu as Torres, criando assim o pretexto
indispensável, e um oportuníssimo inimigo
global, que era o terrorismo internacional da Al-Qaeda. É claro que uma tal
ideia é logo embrulhada no plástico das teorias
da conspiração, pelos escribas avençados que nos formatam a cabeça e são
uma peça fundamental da guerra que aqui se trava. Nenhum deles nos recorda, a
propósito, as circunstâncias do ataque japonês a Pearl-Harbour, nem o crime de
Hiroshima e Nagasaki, para nos lembrar que os exemplos são muitos e que não há
limites. Nem nos mostra que o relatório oficial da Comissão de Inquérito à
queda das Torres Gémeas é contraditado por largos sectores da opinião pública
americana, por ser uma trapaça que não resiste à mais elementar análise.
Com base no Patriot
Act, que o Bush depressa pôs em vigor, e noutras determinações que o Dick
Chenney engendrou, a América atacou sem demora o Afeganistão, em cujas grutas o
Bin Laden se acharia. E logo depois invadiu o Iraque, por causa das armas
químicas com que o déspota Saddam Hussein ameçava o mundo, alimentava o
terrorismo internacional e tiranizava o povo. A América bombardeou bairros
urbanos de Bagdad com bombas equivalentes a 10 toneladas de TNT, e usou
munições de urânio empobrecido com efeitos letais que ainda hoje se manifestam.
Isto antes de se entregar à missão franciscana de patrocinar as primaveras árabes e os direitos humanos dos povos do
Mediterrânio, espezinhados por déspotas e tiranos avulsos. A Tunísia, a Líbia,
o Egipto fizeram parte da lista, que só foi interrompida nos rebeldes da Síria porque o Assad tinha
Moscovo à ilharga e mostrou à América os caninos. O Irão vinha a seguir.
Acontece que o Khadafi, (esse mísero que foi sodomizado
depois de morto pelos combatentes da
liberdade que a França e a Inglaterra apoiaram com aviões da NATO), esse
mísero ameaçava, tal como Saddam Hussein, usar no comércio do petróleo outra
moeda que não o dólar americano. Isto seria a ruína das finanças da América,
que ela não podia tolerar. Mas foi esse o lume das primaveras árabes, mais que
os direitos duns indígenas exóticos de turbante e jilaba.
Depois das Torres Gémeas, os crimes cometidos pela
América (e pelos seus sipaios europeus) assustam qualquer mortal e envergonham
o mundo. A vida do povo líbio retrocedeu cinquenta anos, o Egipto mergulhou num
torvelinho, o Iraque foi reduzido a cinzas. As leis internacionais foram
violadas insistentemente, com trânsitos clandestinos de prisioneiros para
Guantânamo, para combater o terror.
Foi de tal forma que as elites americanas acharam por bem “lavar a face” em
público. E depois que o Bin Laden foi morto no Paquistão e atirado ao mar, às
mãos do triunfante Bush, fizeram do cordeiro do Obama, pelo partido democrata,
o primeiro Presidente negro da história vinda e a vir.
Um Obama Presidente não poderia cumprir o muito que
trazia na cabeça, e Guantânamo ainda hoje lá está. Mas o negro desempenhou o
seu papel, e até concedeu que a CIA praticou a tortura dos prisioneiros
laranjas. Não lhe vai sair barata a louçania, mas dá no mesmo, que está em fim
de mandato. Entretanto o próprio partido republicano teve transitoriamente um
presidente negro, que a história já esqueceu. E ainda bem, por ser demasiado
indecoroso e obsceno.
Até que apareceu o Estado Islâmico do Califado. A
Al-Qaeda original, e os movimentos rebeldes de todas as primaveras árabes que
tinham sido amamentados pela América, foram tomados por dentro pelos radicais
islâmicos das decapitações. Combatendo o terror com o terror, estes dão lições
aos mestres. Praticam selvaticamente o terror absoluto, aquele que anestesia os
povos, os desvitaliza e neutraliza. Hitler, Stalin e Mao Tsé Tung sabiam isso
bem por experiência própria. E agora vê-se o Presidente negro e o mundo inteiro
metido no vespeiro, face a um islamo-fascismo à beira do vulcão.
O mundo, e a vida dos povos dele, estão bem pior do que
antes da implosão das Torres Gémeas. Mas os escribas de serviço asseguram-nos
que essa ideia não passa de teoria da conspiração. Durmamos então tranquilos, que os abutres oligárquicos já chegaram onde queriam.