quinta-feira, 18 de setembro de 2014

3º Andamento

Conduzida por elites financeiras e empresariais rapaces, a América tinha necessidade vital de reverter as regras da vida política democrática. E precisava dum pretexto para dar livre curso aos seus objectivos imperialistas, de controlo geo-estratégico e energético do mundo, sem ferir em demasia as muitas opiniões públicas. É neste contexto que entra em jogo a peripécia das Torres Gémeas.
A América destruiu as Torres, criando assim o pretexto indispensável, e um oportuníssimo inimigo global, que era o terrorismo internacional da Al-Qaeda. É claro que uma tal ideia é logo embrulhada no plástico das teorias da conspiração, pelos escribas avençados que nos formatam a cabeça e são uma peça fundamental da guerra que aqui se trava. Nenhum deles nos recorda, a propósito, as circunstâncias do ataque japonês a Pearl-Harbour, nem o crime de Hiroshima e Nagasaki, para nos lembrar que os exemplos são muitos e que não há limites. Nem nos mostra que o relatório oficial da Comissão de Inquérito à queda das Torres Gémeas é contraditado por largos sectores da opinião pública americana, por ser uma trapaça que não resiste à mais elementar análise.
Com base no Patriot Act, que o Bush depressa pôs em vigor, e noutras determinações que o Dick Chenney engendrou, a América atacou sem demora o Afeganistão, em cujas grutas o Bin Laden se acharia. E logo depois invadiu o Iraque, por causa das armas químicas com que o déspota Saddam Hussein ameçava o mundo, alimentava o terrorismo internacional e tiranizava o povo. A América bombardeou bairros urbanos de Bagdad com bombas equivalentes a 10 toneladas de TNT, e usou munições de urânio empobrecido com efeitos letais que ainda hoje se manifestam. Isto antes de se entregar à missão franciscana de patrocinar as primaveras árabes e os direitos humanos dos povos do Mediterrânio, espezinhados por déspotas e tiranos avulsos. A Tunísia, a Líbia, o Egipto fizeram parte da lista, que só foi interrompida nos rebeldes da Síria porque o Assad tinha Moscovo à ilharga e mostrou à América os caninos. O Irão vinha a seguir.
Acontece que o Khadafi, (esse mísero que foi sodomizado depois de morto pelos combatentes da liberdade que a França e a Inglaterra apoiaram com aviões da NATO), esse mísero ameaçava, tal como Saddam Hussein, usar no comércio do petróleo outra moeda que não o dólar americano. Isto seria a ruína das finanças da América, que ela não podia tolerar. Mas foi esse o lume das primaveras árabes, mais que os direitos duns indígenas exóticos de turbante e jilaba.
Depois das Torres Gémeas, os crimes cometidos pela América (e pelos seus sipaios europeus) assustam qualquer mortal e envergonham o mundo. A vida do povo líbio retrocedeu cinquenta anos, o Egipto mergulhou num torvelinho, o Iraque foi reduzido a cinzas. As leis internacionais foram violadas insistentemente, com trânsitos clandestinos de prisioneiros para Guantânamo, para combater o terror. Foi de tal forma que as elites americanas acharam por bem “lavar a face” em público. E depois que o Bin Laden foi morto no Paquistão e atirado ao mar, às mãos do triunfante Bush, fizeram do cordeiro do Obama, pelo partido democrata, o primeiro Presidente negro da história vinda e a vir.
Um Obama Presidente não poderia cumprir o muito que trazia na cabeça, e Guantânamo ainda hoje lá está. Mas o negro desempenhou o seu papel, e até concedeu que a CIA praticou a tortura dos prisioneiros laranjas. Não lhe vai sair barata a louçania, mas dá no mesmo, que está em fim de mandato. Entretanto o próprio partido republicano teve transitoriamente um presidente negro, que a história já esqueceu. E ainda bem, por ser demasiado indecoroso e obsceno.
Até que apareceu o Estado Islâmico do Califado. A Al-Qaeda original, e os movimentos rebeldes de todas as primaveras árabes que tinham sido amamentados pela América, foram tomados por dentro pelos radicais islâmicos das decapitações. Combatendo o terror com o terror, estes dão lições aos mestres. Praticam selvaticamente o terror absoluto, aquele que anestesia os povos, os desvitaliza e neutraliza. Hitler, Stalin e Mao Tsé Tung sabiam isso bem por experiência própria. E agora vê-se o Presidente negro e o mundo inteiro metido no vespeiro, face a um islamo-fascismo à beira do vulcão.
O mundo, e a vida dos povos dele, estão bem pior do que antes da implosão das Torres Gémeas. Mas os escribas de serviço asseguram-nos que essa ideia não passa de teoria da conspiração. Durmamos então tranquilos, que os abutres oligárquicos já chegaram onde queriam.