Há um ano e tal gastei o meu latim a carpinteirar um
texto sobre a Ínclita Geração. Falei com o Oliveira Martins e perdi nisso dois
dias. No fim de tudo, um clique desajeitado deixou-me o ecrã em branco. Não
conhecendo ainda a terapia do Ctrl+Z, caiu-me o texto num buraco negro e lá
ficou. Desconsolado, nunca mais o refiz.
Falava daquela rapaziada
de corte, que foi a ida a Ceuta em 1415. E alargava-se no modo como o infante
do chapéu grande (muitas vezes em conluio com a rainha Leonor), destruiu
paulatinamente a Geração e os irmãos.
O rei Duarte, esse Melancólico,
acabou vitimado pela melancolia, se não foi antes por pesos de consciência, por
não ter preservado o reino das temeridades do cruzadista lunático. O infante D.
Pedro, duque de Coimbra, o príncipe das
sete partidas, fez o grand-tour da
Europa e terá sido o primeiro espírito português escapado ao nevoeiro medieval.
Opunha-se às aventuras da corte, às manobras do irmão. Mas as intrigas de
escroques nobres e arrivistas, que rodeavam o juvenil rei Afonso V, atraíram-no
e mataram-no em Alfarrobeira.
Vinte e dois anos depois, a aventura de Tânger levada a
cabo por impulso do fanático e sob o seu comando pessoal, levou a expedição ao
descalabro. Só pôde regressar ao reino, deixando no calabouço o refém infante
Fernando. Porém mais tarde o paranóico negou-se a devolver Ceuta, e condenou o
irmão.
O juvenil rei Africano lá foi finalmente conquistar as
praças de África, Alcácer, Arzila, Tânger, a partir de 1458. E lá manteve
Ceuta, e outras inutilidades, às custas de Lisboa e do reino inteiro. Muitas
delas mandou-as abandonar o rei João III, por não saber o que fazer com elas.
Até que veio el-rei Sebastião e sepultou aquilo tudo no deserto.
Esse Infante D. Henrique (que o Alfredo Cunha retratou
magistralmente cercado de caixotes retornados na Praia das Lágrimas em 75, e
que as nossas pseudo-elites, nada por acaso, ainda hoje endeusam), foi um dos mais
nocivos crápulas da História de Portugal.