sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Ínclita Geração 1

Há um ano e tal gastei o meu latim a carpinteirar um texto sobre a Ínclita Geração. Falei com o Oliveira Martins e perdi nisso dois dias. No fim de tudo, um clique desajeitado deixou-me o ecrã em branco. Não conhecendo ainda a terapia do Ctrl+Z, caiu-me o texto num buraco negro e lá ficou. Desconsolado, nunca mais o refiz.
Falava daquela rapaziada de corte, que foi a ida a Ceuta em 1415. E alargava-se no modo como o infante do chapéu grande (muitas vezes em conluio com a rainha Leonor), destruiu paulatinamente a Geração e os irmãos.
O rei Duarte, esse Melancólico, acabou vitimado pela melancolia, se não foi antes por pesos de consciência, por não ter preservado o reino das temeridades do cruzadista lunático. O infante D. Pedro, duque de Coimbra, o príncipe das sete partidas, fez o grand-tour da Europa e terá sido o primeiro espírito português escapado ao nevoeiro medieval. Opunha-se às aventuras da corte, às manobras do irmão. Mas as intrigas de escroques nobres e arrivistas, que rodeavam o juvenil rei Afonso V, atraíram-no e mataram-no em Alfarrobeira.
Vinte e dois anos depois, a aventura de Tânger levada a cabo por impulso do fanático e sob o seu comando pessoal, levou a expedição ao descalabro. Só pôde regressar ao reino, deixando no calabouço o refém infante Fernando. Porém mais tarde o paranóico negou-se a devolver Ceuta, e condenou o irmão.
O juvenil rei Africano lá foi finalmente conquistar as praças de África, Alcácer, Arzila, Tânger, a partir de 1458. E lá manteve Ceuta, e outras inutilidades, às custas de Lisboa e do reino inteiro. Muitas delas mandou-as abandonar o rei João III, por não saber o que fazer com elas. Até que veio el-rei Sebastião e sepultou aquilo tudo no deserto.
Esse Infante D. Henrique (que o Alfredo Cunha retratou magistralmente cercado de caixotes retornados na Praia das Lágrimas em 75, e que as nossas pseudo-elites, nada por acaso, ainda hoje endeusam), foi um dos mais nocivos crápulas da História de Portugal.