Terminada a gravação desta obra de Afonso Cruz, chega também ao fim a minha colaboração duma dúzia de anos com a Sonora. E é como fruto do trabalho voluntário duma equipa notável de locutores que milhares de obras ficam ao alcance dos utentes que não podem ler.
No caso presente, sobre o lastro duma fertilíssima imaginação criadora, o autor constrói uma engenhosa fábula narrativa, donde o amor, a morte, a natureza humana e o acto de viver (mesmo se em ambiente exótico), nunca estão ausentes.
O romance responde exemplarmente às três perguntas canónicas a que o leitor comum, analista empírico, sujeitará qualquer texto: o quê, o como, e o porquê. Isto é, o que é que o texto diz, de que modo é que o faz, e com que finalidade.
O único reparo vem das seiscentas páginas do romance. Se o texto fosse aliviado dum quartel (o segundo?), parece que de essencial pouco se perderia, com vantagem geral.
Para Onde Vão os Guarda-Chuvas é um exercício inovador e luminoso da arte de narrar, é um encantamento para o leitor. É um grande ganho para a mísera Literatura. E foi um privilégio para mim, poder terminar assim.