Já um dia se falou aqui dum trabalho de Afonso Cruz na literatura, dos bons augúrios e inovações que trouxe. Hoje volta-se a falar a propósito da gravação deste romance, editado pela Alfaguara em 2013.
A gravação, que será a minha última colaboração com a Sonora enquanto locutor, tem sido demasiado interrompida por outros afazeres pessoais. Tem sido descontínua, sincopada, intermitente, o que não favorece uma visão crítica global e ordenada.
Mantém-se a excelência formal do discurso narrativo. Porém, sem arriscar opinião mais alargada, não parece que todos os bons augúrios se mantenham. Estão presentes os temas do amor, da morte, do exercício da vida, num quadro de sociedade oriental indiana. E o seu tratamento assenta numa surpreendente imaginação criadora, muito distinta da fantasia infantil e oportunista, que por aí prolifera como a sarna.
Da leitura resulta um efeito estético e encantatório assinalável. Factor que, fazendo parte da natureza e da função do texto literário, não deverá ocupar demasiado lugar, parasitando os outros componentes. Conviria atentar nisso.
Adenda: A locução do texto impõe, exige desde cedo, uma toada, um ritmo, uma voz característica. Mostra a experiência empírica que isso é um óptimo sinal de qualidade.