O pescador tem seis
canas espetadas na margem e espera que as carpas piquem. Dá-lhes a manhã
inteira. Veio da Ucrânia, há muito tempo, hoje talvez não viesse. E já fala sem
sotaque, um linguajar enfeitado de vernáculo.
Com uma filha, que
ficou em Kiev, conversa todos os dias através da Internet. E mora numa aldeia
da Serra da Estrela, mais a mulher que anda além, debaixo dos salgueiros, a
recolher lagostins.
Hoje acordaram às cinco
da manhã e vieram às trutas salmonadas. Ele ainda sugeriu que era melhor passar
no Pingadoce de Gouveia, comprar um
peixe e metê-lo no forno. Mas ficavam a perder uma manhã assim.
Esse russo do Putin é
que não passa dum sacana que só quer a guerra, e até paga mil dólares aos independentistas.
Yuri já mal se lembra de Chernobyl, e agora nem quer saber da frota do Mar
Negro, nem lhe importa o gás que chega da Sibéria e passa no pipeline. O que ele queria era que
houvesse paz, sem passageiros mortos em aviões abatidos. Só por causa do sacana
do Putin.
Uma carpa enrolada no
anzol põe aquela cana em sobressalto. Não era bem salmonada, mas escapuliu-se.
Levou um beiço rasgado mas ficou-se a rir. A puta.